Ouve-se muito dizer, quando desencarna uma criança ou um jovem, que a dor é mais profunda porque a morte prematura foge da "ordem natural" das coisas. Ao dizer isso, é como se esperássemos que existisse uma regra onde a doença e o desencarne só chegassem após termos vivido tudo o que tínhamos de viver, após termos "aproveitado a vida".

Nos esquecemos, porém, que as regras não são nossas - e que é bastante possível que aquele que desencarna jovem já tenha aproveitado sua vida da melhor forma possível.

Não temos o mesmo passado espiritual, cada espírito é uma unidade indivisível e única - um indivíduo. Por consequência, não precisamos passar todos pelas mesmas experiências em cada encarnação.  Cada um de nós vivera aquilo que necessita para acelerar seu processo de regeneração e evolução. Temos o hábito de acreditar que uma vida só se completa na idade avançada, após o trabalho, o casamento, os filhos... Mas não existe um padrão a ser seguido. Muitas existências, ainda que breves, são extremamente proveitosas e "completas".

Em nosso egoísmo (motivado pelo sofrimento causado pelo desencarne prematuro de uma pessoa amada), acabamos nos revoltando com os desígnios de Deus. Não aceitamos - ou não queremos aceitar - a ausência. Achamos injusto, cruel.

É nesse momento em que devemos analisar melhor a questão.

Sabemos que estamos em um planeta de provas e expiações, onde passamos por diversas experiências (frequentemente problemáticas) para que possamos aprender com elas. Existe uma razão inteligente por trás de cada acontecimento. Usando da lógica, podemos apenas chegar à conclusão de que no caso de uma morte prematura, o espírito em questão não havia mais necessidade de continuar na Terra.

Vários podem ser os motivos, mas podemos supor duas razões principais:
1. O espírito, sendo merecedor, não precisa passar longo tempo encarnado neste "vale de misérias"; sua evolução pode se fazer de forma mais rápida e eficaz com um desencarne precoce.
2. Por ainda encontrar-se em estado de fragilidade moral, será melhor que o espírito não passe pelas provas duras da vida adulta. Assim, ele poderá desencarnar ainda enquanto jovem, podendo completar sua regeneração aos poucos.

Não nos cabe tentar adivinhar ou julgar qual razão se aplica a tal e tal espírito. Como dissemos, existem diversos motivos para o desencarne precoce - apenas enumeramos aqui, a título de esclarecimento, as razões mais "comuns". Seja qual for o motivo, o importante é nos lembrarmos que esses desencarnes não são nem castigos e nem anomalias. Eles são apenas experiências pelas quais têm de passar o espírito em evolução.

O espírito que desencarna enquanto jovem não está "perdendo" alguma oportunidade. Pelo contrário, é mais provável que a experiência lhe seja benéfica. Não devemos nos angustiar pensando naquilo que o desencarnado poderia ter feito, ou poderia ter vivido. Se houvesse a necessidade de realizar determinadas tarefas através de uma vida longa, o espírito não teria desencarnado precocemente.

A morte prematura não é apenas uma experiência importante para o espírito que desencarna, mas também para seus amigos e familiares. É através de tais momentos de provação extrema que podemos olhar a vida espiritual de forma diferente e aprender, com a dor da ausência, que a separação não é permanente. Somos chamados, quase aos gritos, a dar uma importância à vida espiritual; a relativizar, a perdoar, a buscar consolo, a evoluir sempre e a valorizar nossa experiência terrena.

Aceitemos os desígnios divinos, tendo confiança e fé, sempre; e sabendo, acima de tudo, tirar proveito de todas as situações que se nos apresentam, para evoluirmos e nos tornamos pessoas melhores. Esse é o motivo, afinal de contas, pelo qual estamos aqui e pelo qual temos de lidar com tais situações. Fiquemos em paz.