Archive for maio 2013

Bem-Aventurados os Aflitos - Capítulo V - "O Mal e o Remédio"

Neste pequeno texto, Santo Agostinho nos chama a atenção para um ponto essencial de nossas experiências na Terra — estamos, aqui, em um "vale de dores", não em um paraíso.


Isto não quer dizer que estejamos aqui para sermos punidos. Muito pelo contrário. Os sofrimentos que conhecemos são meramente a forma mais adequada de aprendermos o Bem, de acordo com nosso grau de evolução. Não é preciso procurar muito para percebermos em nós mesmos graves falhas de caráter, mas isso não nos deve desanimar. 

Somos como crianças em pleno percurso escolar. Da mesma forma que não se censura a uma criança de não "nascer sabendo", não devemos nos censurar por ainda não sermos espíritos elevados: devemos estudar, aprender e passar pelas diversas provas que se impõem em nosso caminho, agradecendo pela oportunidade do crescimento espiritual. 

É desta forma que devem ser encaradas as dificuldades — como oportunidades de crescimento e de elevação que precisam ser bem aproveitadas. 

Como qualquer especialista de qualquer área de conhecimento, ou qualquer profissional técnico, nossas capacidades só podem se expandir quando nos encontramos diante de graus progressivos de dificuldade. Um professor não será um professor caso ele tenha o mesmo nível de conhecimento que seus alunos. Um marinheiro jamais será verdadeiramente um marinheiro se não se aventurar além das águas rasas. 

Quanto mais difícil a prova, mais gloriosa será a vitória e mais rápido chegaremos às vidas tranquilas e felizes que nos esperam, logo ali em frente. 

O remédio proposto por Santo Agostinho já nos é bem conhecido. Trata-se da . É dela que devemos nos munir para enfrentar tais dificuldades, e é somente da esperança que ela traz que podemos nos alimentar, dia após dia, a fim de melhor lidar com nossas tantas situações difíceis. A fé nos mantém seguros da utilidade do sofrimento — caso contrário, os veríamos apenas a curta distância, sem identificar neles qualquer propósito. 

É quando lançamos mão da fé que permitimos a Deus de intervir em nossas vidas, aliviando automaticamente o peso de nossos sofrimentos. 

Creiamos então, sem nenhuma dúvida, nas doces palavras de Santo Agostinho: "Felizes os que sofrem e choram! Que suas almas se alegrem, porque serão atendidas por Deus".


Que a Mão Esquerda Não Saiba o Que Faz a Direita - Capítulo XIII - "Cáritas, Lyon, 1861"

A caridade toma diversas formas.

Não apenas aquela da ajuda material em relação aos que possuem pouco, muito menos do que nós, sob a forma de moedas, roupas, alimento.

A caridade também pode ser exercida entre pessoas de iguais condições materiais, através da indulgência, do apoio moral, da ajuda espiritual. Os atos mais simples do dia-a-dia, como escutar, sem julgamentos e sem tentar impôr nosso ponto de vista, a alguém que precisa desabafar sobre seus problemas, ou fazer o máximo para compreender alguém que segue um estilo de vida diferente do nosso, podem ser grandes atos de caridade.

Somos caridosos quando perdoamos os deslizes alheios.

Somos caridosos quando, com humildade, admitimos nós mesmos os nossos deslizes, e trabalhamos para não repetí-los.

Somos caridosos quando, guiados pelos bons espíritos, nos sentimos inspirados a fazer algo de bom a alguém, sem esperar retorno ou reconhecimento, sabendo que a recompensa é o próprio ato caridoso em si.

Somos caridosos quando reconhecemos a humanidade de todos, quando nos propomos a tratar com gentileza e simpatia até mesmo aqueles que a sociedade exclui ou incrimina.

Somos caridosos quando nos abstemos de julgar. Não somos capazes, enquanto encarnados, de compreender todas as razões pelas quais alguém age de certa maneira, já que não podemos penetrar em seu íntimo.

Somos caridosos, como nos lembra Cáritas, quando amigavelmente introduzimos aqueles que não pensam como nós à doutrina espírita — não para "convertê-los" ou para mostrar superioridade, mas para que eles, como nós, possam encontrar apoio, consolo e conhecimento nos ensinamentos dos bons espíritos.

Como se vê, a caridade é tão flexível, tão adaptável, que podemos encaixá-la em praticamente qualquer situação do nosso cotidiano, sabendo que seu uso só poderá trazer benefícios — às pessoas com quem convivemos e a nós mesmos.

Sejamos, então, de todas as formas possíveis, caridosos.

Bem-Aventurados os Aflitos - Capítulo V - "Motivos de Resignação"


A resignação anda sempre de mãos dadas com a fé — ela é, em verdade, uma das formas de aplicar a fé em nosso cotidiano. O que caracteriza a resignação é a aceitação completa, não apenas do sofrimento em si, mas de todas as circunstâncias que se encontram fora de nosso controle. É através dela que aprendemos que debater-se não nos leva a nada.

A partir do momento em que temos plena consciência do fato da reencarnação, ou seja, da existência de múltiplas vidas para um só espírito, não há grandes desculpas para negar-se à resignação. Sabemos bem que o sofrimento que encontramos nesta vida é muitas vezes consequência de alguma falha que trazemos no espírito e que devemos consertar — é sempre dolorido tocar em antigas feridas, mas é a única forma de realmente curá-las. 

Mais do que isso, sabemos que o sofrimento é passageiro. Lembro-me de ter lido um livro, há algum tempo, que dizia que todas as circunstâncias são nuvens — vagarosamente passam, transformando-se diante de nossos olhos. De modo que é tolice apegar-se a elas, sejam boas ou ruins. 

Acreditar que uma determinada situação irá durar para sempre é o mesmo que acreditar que as nuvens estejam pregadas no céu. 

É possível que tenhamos uma visão um pouco distorcida da resignação. Quando falamos dela, podem vir à mente imagens ligadas à estagnação, à falta da escolha individual ou até à uma certa imaturidade intelectual. Devemos, porém, nos assegurar que não é disso que se trata a resignação. 

Resignar-se é simplesmente aceitar a vida tal como ela é, e nada além disso. De que adianta debater-se diante de uma situação que não se pode mudar, recusando-se até mesmo a admitir que ela existe? 

Porém, muita atenção: a aceitação de uma circustância não quer dizer imobilizar-se diante dela. Muito pelo contrário — essa aceitação nos chama à ação, à procura de outras possibilidades. Não devemos nos martirizar pelo que perdemos, mas sim adaptar-nos à nova situação que se apresenta. 

Esta resignação só é possível quando escolhemos manter um ângulo de visão amplo (e nisto, o conhecimento da reencarnação pode nos ajudar muito). Reconheçamos, então, três fatos importantes:

- O sofrimento é sempre temporário.
- O sofrimento é um modo de sanar dívidas contraídas nesta encarnação, ou, em outro casos, em encarnações anteriores, de modo que ele é, muitas vezes, uma chance que nos é dada, e pela qual devemos agradecer.
- No fim das contas, não existem acontecimentos bons e nem acontecimentos ruins: a vida se apresenta diante de nossos olhos tal como ela é, e somos nós que, impregnados com os valores transmitidos pela sociedade, julgamos os acontecimentos como « bons » ou « ruins », de acordo com o que nos parece melhor. Porém, muitas vezes algo que julgamos como « bom » se desenrola em consequências consideradas ruins, e vice-versa. 

Viver em resignação, alegrando-se por todas as chances que se nos apresentam, constitui a única verdadeira forma de liberdade que podemos ter, enquanto encarnados.

Vivamos, então, cada dia aceitando as surpresas e os sofrimentos da vida como se estes fossem selecionados a dedo pela vontade divina, visando apenas o nosso bem, sem aflições e sem conflitos desnecessário, em completa aceitação à vontade de Deus. 

O Poder da Fé - Capítulo XIX « A Fé que Transporta Montanhas »


Muitas pessoas, ao ler a passagem do Evangelho onde Jesus nos diz que, se tivéssemos fé como um grão de mostarda, seríamos capazes de mover montanhas, acabam se deparando com numerosas dúvidas. « O que é a fé? Como ter fé? Como saber se tenho fé? »

Antes de tudo, temos de ter em mente que a fé não é um conceito — ela não é algo externo a nós, algo que temos que « correr atrás » para conseguir. A fé é um modo de viver todos os dias. Ao invés de buscá-la, é preciso fazer a escolha de viver com fé, tendo sempre a consciência de que ela terá de ser cultivada, com a paciência de quem deposita na terra uma semente, nutrindo-a e cuidando dela até que se torne uma árvore de onde se possa colher frutos.

Mas a fé é uma árvore estranha, diferente; não é nos dias ensolarados de primavera que ela floresce, mas sim durante as piores tempestades. É nos momentos de aflição que ela mostra todo seu esplendor, curvando-se para nos abrigar, nos confortando com a certeza da presença de Deus, nos dando confiança e esperança para prosseguir. 

Essa confiança, como bem nos lembra o Evangelho, não deve ser confundida com a presunção. A fé caminha sempre lado-a-lado com a humildade, porque mais do que uma confiança em si mesmo, ela é uma confiança em Deus.

Por isso mesmo, a fé pode apresentar-se como uma espécie de serenidade, de calma diante das mais difíceis circunstâncias. Ela é a própria sabedoria, adquirida progressivamente, através do reconhecimento da supremacia da vontade divina. Não nos ajuda em nada a fé aflita, vacilante, que desmorona ao contato das primeiras chuvas e que não crê na possibilidade da vitória. 

É através da fé, como nos mostra o Evangelho, que o homem é capaz de manipular o fluido universal*, modificando-o, principalmente quando esta fé se materializa em forma de prece. Dessa forma, ao aliar a fé ao poder fluídico, direcionando-os ao Bem, podemos « transportar montanhas », como nos diz Jesus, executar curas e muitas outros fenômenos outrora considerados milagrosos. Todos eles estão a nosso alcance. Nos basta a simples escolha de viver com fé, e a certeza, sobretudo nos momentos difíceis, de que nossa fé é maior do que o medo e o sofrimento — afinal de contas, estamos todos subordinados à vontade de Deus, que invariavelmente quer nosso bem; então por que temer? 


*Um ótimo artigo explicando mais sobre as propriedades do fluido universal pode ser encontrado no site Lições dos Espíritos

Prefácio

O prefácio do Evangelho, por si só, já nos explica muita coisa sobre o propósito do livro e sobre o momento planetário que estamos atravessando — a hora em que devemos, de uma vez por todas, nos unirmos, harmoniosos como uma orquestra, para a preparação do que o Espírito da Verdade chamou de "concerto divino".

Através de suas palavras, conhecemos a imensa misericórdia com que nossos irmãos espirituais nos acalentam: irmãos amados, estamos juntos de vós. Eis a maior consolação da doutrina Espírita — a certeza de que não estamos sozinhos, a certeza da companhia dos espíritos superiores que trabalham incansavelmente, com amor e paciência, para nos ajudar em nossa caminhada rumo à perfeição espiritual.

Eles nos convidam, a seu exemplo, a amar-nos uns aos outros, da mesma forma que eles nos amam; o amor entre os homens não pode propagar-se, se ele existir somente numa dimensão vertical, ou seja, vindo dos espíritos superiores até nós — ele precisa existir também horizontalmente, entre todos nós que, numa posição inferior, nos encontramos encarnados ou desencarnados.

O Reino dos Céus ao qual se refere o Espírito da Verdade, não é um lugar situado no espaço, de onde podemos entrar ou sair — trata-se, na verdade, do mais alto grau da evolução espiritual, que só pode ser conquistado quando, degrau por degrau, aprendermos a seguir os ensinamentos que Jesus nos deixou como seu único legado.

Esta é a vontade do Pai que está no Céu, e é só através da aplicação diária de seus ensinamentos morais, da completa entrega aos princípios de Deus, que conheceremos dias melhores. 

Propósito Inicial


O objetivo deste site não é, de maneira alguma, substituir a leitura do Evangelho Segundo o Espiritismo, mas torná-la mais fácil e acessível, através da discussão de alguns capítulos, selecionados ao acaso. Conforme for possível e, se houver interesse, discutiremos também outras obras espíritas, de diversos autores. 

Sobre o Livro
O Evangelho Segundo o Espiritismo (L’Évangile Selon le Spiritisme) é um livro de Allan Kardec, publicado pela primeira vez em 1864, na França, inicialmente com o título de Imitação de Evangelho, e que aborda os ensinamentos do Evangelho através do olhar do Espiritismo, com a orientação e colaboração de diversos espíritos superiores — especialmente do Espírito da Verdade. O Evangelho Segundo o Espiritismo se destaca, entre os livros da Codificação, por nos fornecer "a base e o roteiro da Religião Espírita", como nos explica J. Herculano Pires, o "apóstolo de Kardec". 
Veremos mais sobre o livro conforme avançamos. 

Sobre o Autor
Allan Kardec (Hippolyte Léon Denizard Rivail), 1804-1869, foi um pedagogo francês, e fundador da Filosofia Espírita. Kardec começou seus estudos após tomar conhecimento do fenômeno das "mesas girantes", prática comum na época e tida como mero divertimento nos salões burgueses. 
A explicação aceita pela maioria era aquela do magnetismo, segundo o qual, um fluído magnético seria capaz de atuar sobre corpos inertes e fazê-los mover-se. Porém, além de mover-se, a mesa era capaz de responder a diversas perguntas, através de um código pré-estabelecido, onde um certo número de batidas na madeira poderia significa "sim", "não", etc. Intrigado, Kardec resolveu assistir a uma dessas reuniões, pois o magnetismo, apesar de ser capaz de explicar os movimentos da mesa, não seria capaz de conferir-lhe inteligência própria — portanto, não era a mesa quem respondia às perguntas, mas alguma outra coisa. A partir de então, Kardec lançou-se no estudo aprofundado sobre tais fenômenos, comunicando-se com os espíritos através de diversos médiuns, progressivamente, até chegar ao que conhecemos hoje como Espiritismo. 

Dito isto, comecemos. 

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