Archive for 2013

Ligações Afetivas

Grande é a influência do plano espiritual e da carga que trazemos conosco enquanto espíritos sobre os aspectos mais corriqueiros da vida na Terra. Com as ligações afetivas, um assunto bastante delicado, não é diferente.

Usualmente criamos laços com espíritos que nos são semelhantes, em termos de evolução, porque neles encontramos as nossas próprias tendências. É o caso das amizades, que, sob a influência dessas tendências, podem vir a nos ser prósperas - quando nos encontramos entre amigos sinceros, que querem o nosso bem e que se dispõe a nos ajudar em nossa evolução -, ou que podem retardar nosso avanço.

Existem também os casos onde, por conta de uma expiação, somos levados a criar laços com espíritos contra quem nutrimos animosidades. Se for assim, é provável que tenhamos contas a acertar e muito a aprender com essa amizade, de maneira menos suave.

O mesmo acontece com as ligações amorosas, porém de maneira mais intensa. Cada relacionamento é uma grande fonte de aprendizado, se soubermos encará-lo desta forma. Em nosso estágio atual de evolução, uma perfeita afinidade entre espíritos é bastante rara, de modo que, na grande maioria dos relacionamentos, encontramos no lugar desta afinidade, dívidas que devem ser sanadas e diferenças que devem ser superadas.

Conforme nosso merecimento, seremos encaminhados a estabelecer relações com espíritos que nos são simpáticos, e com quem podemos construir uma vida de sentimentos sinceros. Essas relações são muitas vezes definidas no plano espiritual, antes de encarnarmos - daí o aspecto "cármico" de diversas uniões - de acordo com nossa necessidade de aprendizado.

Sendo parte importante da vida do indivíduo, os relacionamentos podem nos servir seja como oportunidade de nos redimirmos junto à um espírito que prejudicamos (ou que nos prejudicou) em uma outra vida; como chance de aumentarmos nossa tolerância e paciência; como prova, principalmente no que se refere à questão do adultério; como bênção, quando nos unimos com um espírito afim, para que possamos crescer juntos.

É imprescindível, então, que mesmo numa época histórica onde a maioria das relacionamentos tornou-se banalizado, sejamos cautelosos nesta questão. As ligações energéticas criadas entre dois ou mais espíritos são laços que não se rompem com facilidade e podem nos acompanhar por encarnações a fio. De mesmo, as relações que temos com nossos parceiros são muitas vezes compromissos assumidos no plano espiritual, o que implica uma responsabilidade que não deve ser ignorada.

Todos já falhamos, é verdade. Sofremos e fizemos sofrer, por tratarmos de forma leviana tais laços que são tão importantes. Quando nos envolvemos, emocional ou fisicamente, automaticamente criamos para nós novas responsabilidades que às vezes não queremos levar adiante - e por estes descasos seremos responsabilizados.

É claro, porém, que nos casos extremos, onde há violência dentro do casal e nenhum sinal de respeito mútuo, o melhor a fazer é romper a ligação pois, de um ponto de vista espiritual, o relacionamento criado com o objetivo de redimir uma relação malfada numa outra encarnação pode terminar assim por tornar ainda pior a relação entre os dois espíritos.

Contudo, sabendo da implicação que tem um relacionamento afetivo, devemos fazer o possível para que ele funcione, para que possamos aprender com ele. Toda relação, seja ela afetiva, profissional, familiar ou de amizade, existe para que possamos aprender com nossos irmãos de caminhada - e nenhuma destas relações acontece por acaso.

Façamos o melhor para levarmos em conta a importância de nossas relações com o próximo para nossa evolução, fazendo o possível para respeitar e aprender com nossos companheiros, para que desta forma, os laços menos felizes sejam dissolvidos para dar lugar a ligações verdadeiramente satisfatórias e bem merecidas!

Bem-aventurados os Aflitos - Capítulo V - "Os Tormentos Voluntários"

Ao nos depararmos com este pequeno texto do Evangelho Segundo o Espiritismo, "Os Tormentos Voluntários", a primeira sensação é a de estranhamento: como assim, tormentos voluntários? Quem, em boa consciência, criaria tormentos para si mesmo? Que motivos teria alguém para procurar deliberadamente situações para sentir-se miserável? 


Infelizmente, todos nós temos sofrimentos que são, em algum grau, voluntários. Não porque conscientemente escolhamos sofrer, mas porque tomamos decisões e perpetuamos hábitos que sabemos muito bem, não nos trarão nada de bom.

A verdadeira felicidade é impossível no estado em que nos encontramos atualmente, pois ainda somos espíritos inferiores. Mas, cultivando os pensamentos apropriados, podemos fazer com que a vida na Terra transcorra de maneira muito mais suave, sem conflitos desnecessários. 

Fénelon, autor do texto, exemplifica bem os tormentos voluntários, falando-nos sobre a inveja e o ciúme. Ambos os sentimentos são parecidos: nos comparamos com os outros e, querendo estar por cima, cada coisa boa que lhe acontece nos parece um insulto pessoal, principalmente quando a pessoa recebe uma atenção que desejamos para nós. 

Esses sentimentos criam conflitos internos: entramos em estados difíceis de angústia e inquietude. Não podemos estar em paz, nessas condições. Ao invés de desejar o mal alheio, para que possamos aquietar nossa angústia, por que não trabalharmos para nossa cura, compreendendo que a inveja e o ciúme não têm sentido? 

Muitos outros tormentos são criados por nós mesmos, em diversas situações: quando levamos qualquer crítica para o lado pessoal, quando somos pessimistas, quando queremos aquilo de que não precisamos, quando insistimos, por teimosia, em não perdoar aos outros e a nós... 

Somos responsáveis por nossos sentimentos - por que querer mudar o outro, quando podemos mudar nossa reação ao que ele faz? Sabemos que ninguém burla a justiça de Deus: caso alguém nos tenha causado mal propositalmente, essa pessoa terá de lidar com as consequências de seus erros. Não cabe a nós mudar ou julgar ninguém.

Muito sofrimento pode ser evitado, quando decidimos pela resignação, pela fé e pela humildade. 

Então, ao invés de criar tormentos para nós mesmos e para os outros, elevemos nosso pensamento ao que é realmente importante e façamos o possível para mudar nossos padrões de comportamento. Busquemos, acima de tudo, a paz de nossos corações. 

Deficiência Mental e Física : Justiça Divina

Um dos assuntos mais discutidos, que surge com o conhecimento da questão da reencarnação, é aquele que se refere às deficiências congênitas, ou seja, que se apresentam antes do nascimento, e que tomam a forma de diversas malformações e síndromes.


Quando acreditamos que o espírito tem uma encarnação única, somos obrigados a questionar a justiça divina quando nos deparamos com uma criança ou adulto portador de tais deficiências. Se Deus é justo, e nos criou todos iguais, por que alguns nascem "saudáveis" e outros nascem com deficiências? Porém, ao tomar conhecimento do fato da reencarnação, somos capaz de compreender mais facilmente porque algumas crianças desenvolvem estas deficiências no útero, e outras não. 

Primeiramente, precisamos nos lembrar de que a reencarnação em um corpo deficiente não é um castigo, mas um simples caso de causa e efeito, como tudo o que acontece - e uma grande oportunidade de crescimento, tanto para o espírito reencarnado, quanto para seus familiares. 

Existem diversos motivos para que o espírito reencarne em um corpo deficiente, os mais frequentes sendo o suicídio, ou o uso indevido das faculdades mentais. Estas são apenas as causas mais comuns, contudo cada caso é um caso individual. 

No caso do suicídio, o que pode ocorrer é que, ocorrendo o desencarne de forma brutal e precoce, é possível que o perispírito* seja comprometido, e leve as marcas desse desencarne. Porque o suicídio é ato do livre-arbítrio, o espírito então reencarna na condição de deficiente, para que aprenda a dar valor ao corpo e à vida. 

O segundo caso mais frequente é o do uso indevido das faculdades mentais. Muitos dos deficientes mentais que reencarnam na terra são, de fato, espíritos muito desenvolvidos intelectualmente, mas pouco desenvolvidos moralmente. Ao invés de utilizarem a inteligência que lhes foi dada em prol do bem comum, acabaram cometendo o erro de utilizá-la para fins egoístas ou prejudiciais. Neste caso, o que ocorre normalmente é que o próprio espírito, ao desencarnar e perceber o erro que cometeu, pedir para voltar num corpo deficiente, para melhor desenvolver justamente suas capacidades morais. 

Existem muitas outras razões para as deficiências congênitas, tanto quanto existem indivíduos sobre a Terra. Porém, o essencial é que saibamos que isto não é um castigo e nem uma injustiça; muito pelo contrário, as deficiências são uma oportunidade de evolução. 

Poucos são os espíritos que sofrem demasiadamente com a reencarnação num corpo deficiente. Em sua maioria (em razão do esquecimento obrigatório pelo qual passa o espírito no momento de reencarnar), eles se adaptam facilmente ao novo corpo, da mesma forma que os espíritos que encarnam em corpos não-deficientes se adaptam. 

O mais importante, ao lidar com uma criança ou adulto reencarnado em corpo deficiente, é a aceitação e a demonstração do amor. Nada é por acaso. Caso tenhamos um familiar deficiente, significa que muito temos a aprender com ele, e essa aprendizagem se fará muito mais facilmente através do amor. A fragilidade dos corpos deficientes não é acidental: ao mesmo tempo em que o espírito encarnado no corpo deficiente aprende a valorizá-lo, ele serve para nos inspirar compaixão - sentimento muito necessário àqueles que reencarnam em condições difíceis. 

Para melhor compreensão desta questão, sugiro a leitura do livro Deficiente Mental: Por Que Fui Um? , psicografado por diversos espíritos através da médium Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho. Neste livro, espíritos que recentemente estiveram em situação de deficiência falam sobre sua experiência e nos mostram o outro lado das deficiências congênitas: a evolução do espírito e a maravilhosa justiça de Deus. 

A versão em PDF deste livro está disponível na seção Obras Originais. 


* O perispírito é a matéria sutil que permite que o espírito se manifeste no corpo material em que ele nasce. Ele tem a forma do corpo físico, e é ligado a ele por um cordão, também feito da mesma matéria do perispírito. Quando esse cordão se rompe, ocorre o desencarne. É através do perispírito que o espírito mantém sua forma física no plano espiritual. 

Predominância do Bem

Sabemos bem que estamos em um momento de transição, tanto pessoal quanto planetária. A Terra está deixando, progressivamente, de ser um planeta de Provas e Expiações para tornar-se planeta de regeneração, com a predominância do bem.

Podemos argumentar que, diariamente, ainda recebemos notícias chocantes, tristes, que nos lembram do quanto ainda temos de melhorar enquanto comunidade global. Mas basta nos propormos a prestar atenção nas evoluções feitas para percebemos que o Bem caminha para uma posição predominante.

Para cada notícia negativa, para cada demonstração de violência, de preconceito, existem centenas de vozes que se opõem, pedindo a criação de uma sociedade mais justa, mais pacífica, mais gentil. Cada vez mais, são criados movimentos que visam a destruição de paradigmas infelizes, e a sua substituição pelo pensamento crítico, capaz de criar soluções que beneficiam a todos.

Só precisamos escolher fazer parte disso: questionando nossas próprias certezas, eliminando preconceitos, advocando pela compaixão ao invés do julgamento e do cinismo.

É no plano individual, nas pequenas atividades diárias, que esses princípios são mais necessários. Podemos contribuir com grandes obras, fazer doações, trabalhar em prol do outro; mas são nos momentos mais banais, quando não há ninguém olhando, que nossas verdadeiras tendências imperam - e, portanto, são nesses momentos banais em que mais precisamos nos vigiar.

Ao invés de tentarmos passar uma imagem que pouco tem a ver com nós mesmos - uma imagem de elevação que ainda não alcançamos -, sejamos humildes. Sejamos nós mesmos, mas sejamos o nosso melhor. É desses pequenos momentos de (auto) aceitação e misericórdia que retiramos as forças para os grandes trabalhos, para os momentos de dificuldade.

Contribuamos para a predominância do Bem, sabendo que mudar a si mesmo é mudar uma pequena parte do mundo, para que possamos inspirar aos outros, e dar a eles esperança. Mostremos, através de nossas próprias ações, que o planeta está evoluindo, fazendo o possível para auxiliar esta evolução.

Amar ao Próximo como a Si Mesmo - Capítulo XI - "A Lei do Amor"

É mensurável o estado de evolução do espírito através de suas tendências. Segundo as instruções e Lázaro, o espírito no estado mais baixo de evolução tem apenas instintos; em seguida, mais avançado, ele tem sensações; mais purificado, ele tem sentimentos - e é nesse momento em que ele pode encontrar o amor, o mais elevado dos sentimentos.

É possível que encontremos, no mesmo espírito, mais de uma dessas tendências. Podemos encontrar os sentimentos e sensações, as sensações e os instintos, cada uma fazendo-se ouvir em determinados momentos. Isso é normal, pois os estágios de evolução do espírito são longos períodos de transição, onde tendências mais elevadas podem encontrar-se com tendências menos elevadas.

O mesmo se dá com o amor: ele se espalha conforme evoluímos. Não devemos, porém, confundí-lo com sentimentos transitórios, como a paixão ou a possessividade. O amor a que se refere Lázaro não é a necessidade constante de estar com uma pessoa determinada, mas a necessidade de aceitar a todos, de ajudar a todos.

O amor nasce da cissão com a personalidade. Enquanto estamos embrenhados no universo egóico, criamos sempre um "eu" que se opõe a um "outro". Dessa oposição, nascem diversas formas de violência, intolerância, preconceito, etc. Temos a necessidade de apontar o defeito no "outro" para diferenciá-lo de nós mesmos.

Essa oposição, levada a consequências extremas, é o que dá origem a guerras religiosas, genocídios, a crimes de racismo, homofobia e machismo. No dia-a-dia, em proporções menores, ela aparece nos olhares que lançamos às pessoas, julgando-as, na necessidade que temos de criticar o outro, de falar mal, de provar que estamos certos.

Para encontrar o amor ao qual se refere Lázaro - o verdadeiro amor divino, o amor como elevação do espírito -, precisamos romper com o ego. Ao invés de procurarmos aquilo que nos diferencia das outras pessoas, procuremos aquilo que nos une; ao invés de enxergamos o "eu" contra o "outro", façamos o possível para enxergar o "nós" - e estendamos nosso "nós" até onde a vista alcança.

Além disso, lutemos como pudermos contra nossos instintos. Deixemos, pelo contrário, que nossos sentimentos nos sirvam de guia, calando os pensamentos inoportunos. "Será então que, compreendendo a lei do amor, que une a todos os seres, nela buscareis os suaves prazeres da alma, que são o prelúdio das alegrias celestes".

A Importância do Amor na Reforma Íntima

Quando começamos nossa reforma íntima, percebemos, antes de qualquer coisa, o quanto precisamos mudar: temos tendências pouco felizes a cometer e repetir erros, a julgar os outros precipitadamente, a nos fazermos de vítimas, a nos rebelarmos. A lista longa, e cada um de nós a conhece bem.

Depois de identificarmos os erros em nosso comportamento, o próximo passo tende a ser o esforço para suprimir esses erros. Se temos a tendência à violência, seja ela verbal, emocional ou física, nos controlaremos ao máximo para não praticá-la; se temos tendência ao materialismo, usaremos toda a nossa força de vontade para não dar grande importância aos bem materiais que desejamos ter.

É verdade que esses comportamentos não trarão boas consequências nem para nós e nem para aqueles que nos rodeiam - e, portanto, é preciso nos esforçarmos para não repetí-los. Mas de que serve combater a consequência, se desconhecemos a causa?

Os nossos comportamentos são consequentes aos pensamentos e sentimentos que trazemos em nós - sejam eles herança de outras encarnações, sejam eles vindos da encarnação atual. Se temos comportamentos que não gostamos, é primeiramente aos pensamentos e aos sentimentos que precisamos prestar atenção.

Um dos sentimentos mais profundos, de cujas ramificações podem surgir dezenas de pensamentos, convicções e comportamentos negativos, é o medo. Alguns dirão que o medo é fruto do instinto humano, uma estratégia de sobrevivência. Isso é verdade; porém, nos acostumamos a viver diariamente o medo, sob diversas formas. Em demasia, o medo não é somente desnecessário, mas também nocivo.

O medo é a raiz do orgulho, da arrogância, da violência, do ódio, de incontáveis transtornos mentais, da avareza, de muitos desentendimentos entre as pessoas e os países, do preconceito, de vários tipos de vício. Podemos tentar combater todas essas consequências, mas não nos livraremos delas por definitivo até darmos um jeito em sua fonte.

A única forma de combater o medo é através do amor. Ao adotarmos uma postura de amor em relação a nós mesmos, aos nossos próximos e à nossa vida, somos capazes de transformá-la completamente.

O amor compreende, acalma, educa, aceita, confia, perdoa. Nele estão contidos todos os princípios ensinados por Jesus - a serenidade, a fé, a confiança em Deus, o perdão, a caridade, a humildade, a integridade, a simplicidade.

Basta que escolhamos o amor, conscientemente.
Ao invés de julgar o outro, façamos o possível para aceitá-lo como ele é.
Perdoemos nossa vida por não ser aquilo que queríamos que fosse, e perdoemos ainda nós mesmos por ainda não sermos capazes de criar para nós mesmo a vida que queríamos.
Guardemos a serenidade em todo momento, confiando em Deus.
Livremo-nos da culpa paralisante, que não induz a evolução alguma.
Sejamos alegres, simples, gratos.

Na maioria das vezes, nossos medos são em vão. Cabe a nós mesmos, através do auto-conhecimento, nos tornamos conscientes de nosso medo e de suas consequências, para que assim possamos modificar nossos pensamentos, sentimentos e, consequentemente, nossas ações.

Não Por a Candeia debaixo do Alqueire - Capítulo XXIV - "A Coragem da Fé"

Mesmo que bastante difundida no Brasil, a doutrina Espírita sofre, ainda hoje, certos preconceitos. São muitos os que acreditam tratar-se de charlatanismo o trabalho dos médiuns, ou que, por ignorância, temem os frequentes contatos com os desencarnados. Soma-se a tais equívocos o desprezo generalizante de outros acerca de quaisquer doutrinas teístas (ou seja, que admitem a existência de Deus), e podemos compreender o porquê da hesitação de muitos a admitirem que são espíritas.

Afirmar-se espírita é, como o ato de emitir qualquer opinião, engajar-se. E engajar-se significa defender um ponto de vista, ainda que face a opiniões contrárias.

Dependendo de nosso contexto familiar ou social, não é uma tarefa fácil e, por medo de prejudicar nossas relações com pessoas que amamos e respeitamos, podemos acabar escolhendo esconder aquilo que realmente pensamos. Mas isso é um erro.

Ao divulgar a doutrina Espírita, podemos ajudar pessoas que encontram-se diante de problemas aparentemente em solução, de grande sofrimentos ou de uma necessidade de mudança. Quando guardamos tais conhecimentos apenas para nós mesmos, estamos colocando a candeia debaixo do alqueire. De que adianta a candeia iluminada, se nós a escondemos? Para que serve a luz que não tem a chance de iluminar?

Tente se lembrar de como o espiritismo surgiu em sua vida, e como você se sentiu ao receber suas respostas tranquilizadoras sobre a continuidade da vida e a reencarnação; ao perceber as infinitas lições que podemos aprender ao curso da vida se estivermos realmente dispostos; ao encontrar consolo e esperança na certeza de um Deus justo, que não julga, que não pune, mas que ama e ensina pacientemente.

Não são poucos aqueles que têm necessidade de tal alívio. Não há porque temer o julgamento alheio - aquele que hoje zomba pode ser o mesmo que amanhã encontrará uma nova alegria nas palavras de Jesus.

É claro que não nos cabe querer converter ninguém ao Espiritismo, e nem pregá-lo como uma doutrina superior às outras. Existem centenas de fontes de luz, milhares de caminhos diferentes que levam a Deus - o Espiritismo é apenas um deles.

O mais importante é saber respeitar a opinião de outro, ao mesmo tempo que se lhe permite conhecer a doutrina Espírita e, sobretudo, o bem que ela nos trouxe, o bem que ela nos incita a fazer pelos outros - através da caridade - e por nós mesmos - através da análise de nossas dificuldades e vontade de melhora.

Não sejamos egoístas em nossa fé. Retiremos o alqueire de cima da candeia e deixemos que ela brilhe, iluminando o nosso caminho e de todos aqueles em necessidade da luz divina.

Falsos Cristos e Falsos Profetas - Capítulo XXI - "Não acrediteis em todos os espíritos"

Muito se fala sobre os fenômenos espirituais. A comunicação com os espíritos desencarnados, seja ela através da psicografia, da psicofonia ou da vidência sempre fascinaram ao homem encarnado - prova da continuidade da vida.

Essas comunicações, porém, nem sempre são proveitosas. Há muitos espíritos na erraticidade; nem todos eles estão aptos a fornecer ajuda através da comunicação com os encarnados, e muitos, por ignorância, se comprazem em brincadeiras de mau-gosto. É preciso que estejamos atentos para sabermos distinguir entre esses tipos de comunicação.

Essa comunicação nem sempre se dá de maneira aberta (como a psicografia). A inspiração é a principal forma que os espíritos têm de nos influenciarem e de falarem conosco, seja para nos incitar a tomar decisões melhores, seja para nos atrair para um padrão vibratório mais baixo. Esse tipo de influência não é facilmente reconhecível. Podemos atribuir a nós mesmos um pensamento que nos foi inculcado por um espírito desencarnado, principalmente se não temos noção da vida espiritual.

Recentemente, um conhecido passou por uma situação que ilustra bem essa influência dos desencarnados sobre nós. Ele estava numa padaria, na fila do caixa, quando sentiu uma forte vontade de comprar cigarros, mesmo nunca tendo fumado. Começou a olhar as diferentes caixinhas e maços, atraído pelas diferentes cores. Mesmo não sendo fumante, pensou em comprar alguns maços para colecioná-los.

Foi então que, sentindo a presença de alguém, virou-se para trás. Lá estava um espírito, de aparência abatida e rosto encovado, que lhe pediu para "dividir" com ele um maço de cigarros. Através do pensamento, ele pediu desculpas ao espírito, dizendo-lhe que não fumava, e saiu, pedindo aos irmãos espirituais para que se ocupassem dele.

Infelizmente, nem todos possuímos a sensibilidade mediúnica suficiente para identificar desejos que não são nossos e perceber aí a influência de um espírito errático. Mas o simples hábito de manter-se atento, vigiando nossos pensamentos, pode nos evitar situações um tanto quanto complicadas, que podem se arrastar por meses ou anos sem que nos demos conta - degenerando em estados de obsessão e doenças espirituais ou físicas.

Durante as sessões mediúnicas, essa atenção deve ser redobrada. Assim como na Terra, muitas pessoas tentam se passar por outras para receber atenção e reconhecimento, o mesmo acontece no mundo espiritual. Embora as casas espíritas sejam lugares de vibrações elevadas, protegidos das influências exteriores, o médium pode acabar por, através de suas próprias vibrações de orgulho e personalismo, tornar-se vítima de um "falso profeta" - nesse caso, a situação é "permitida" pelos espíritos que guardam a casa, para que o médium perceba por si mesmo o seu erro, e mude sua conduta.

É imprescindível a máxima de Jesus, "orai e vigiai".

Oremos e vigiemos sempre nossas ações e pensamentos, para que recebamos apenas a influência dos espíritos superiores que estão sempre dispostos a nos guiar. Deus está sempre conosco, sempre presente - basta que nos alinhemos com as boas vibrações celestes para percebermos sua presença e nos beneficiarmos de seu apoio.

A Gratidão

A gratidão é uma das maneiras mais simples - e diretas - para entrarmos em harmonia com as vibrações do alto. Ao expressarmos verdadeiramente nossa gratidão, seja a alguma pessoa específica, seja em oração, sofremos uma mudança de ponto de vista, dando mais atenção ao positivo do que ao negativo, e essa mudança de pensamento faz toda a diferença.

Estamos acostumados a encarar a gratidão como algo que se sente quando alguém nos faz algo de bom: quando alguém nos ajuda a carregar sacolas pesadas, quando nos seguram a porta do elevador, quando nos dão um presente. Mas a gratidão vai muito além disso - a gratidão, assim como a fé, é um estado de espírito.

Quantas coisas possuímos, e a quantas coisas não damos o devido valor! Passamos por cima delas, cegos, querendo sempre mais, como se a tudo tivéssemos direito, como se a vida nos devesse qualquer coisa. A ingratidão gera sempre o sentimento de insatisfação - a sensação de que há algo faltando - e, com ele, a amargura, o pessimismo, a tentativa desmesurada de preencher um vazio interior que percebemos como algo real, mas que em verdade é injustificável.

Olhe ao redor. Escute através da janela o passinho rápido dos que se apressam, e agradeça pela faculdade de ouvir. Levante-se para ir trabalhar, agradecendo pela saúde, pela mente sã, pela oportunidade de ser útil. Veja as flores no canteiro e agradeça pela visão de algo tão belo. Sejamos gratos por nossos amigos, por nossa família, por nossos talentos, pela oportunidade do crescimento, por nossa saúde, e até mesmo pelas pequenas coisas que parecem tão corriqueiras: o movimento fluido das pernas, a habilidade de sentir até mesmo os sentimentos mais pesados, os dentes saudáveis, o crescimento das unhas, as meias que esquentam os pés, as horas a mais de sono, a capacidade de criar, de imaginar, de sorrir...

A gratidão, devidamente expressada, gera o sentimento de paz, de alegria, de esperança. Um estudo recente, realizado em 2005 pela Universidade da Pensilvânia, mostra que o fator mais importante na busca da felicidade é a gratidão. Não porque nos tornamos mais felizes ao expressar nossa gratidão pelas coisas que normalmente não notamos - mas porque ao notar essas coisas, ao agradecer por elas, percebemos o quanto já somos felizes.

A gratidão, segundo Joanna de Ângelis, é resultado de um amadurecimento psicológico. Isso é bem verdade - mas podemos começar a praticar a gratidão agora mesmo, e fazer dela um hábito tão indispensável quanto a higiene diária.

Pode-se manter um diário da gratidão: todos os dias escrever ao menos três coisas pela qual você é grato. Uma variante desse diário é todos os dias tirar uma foto de algo pelo qual você é grato - sua família, seu trabalho, a comida e até mesmo o travesseiro confortável depois de um dia cansativo. Pode-se também agradecer a Deus, em oração, todos os dias antes de dormir e assim que acordar; ou mesmo aprender uma oração de gratidão - como o Poema da Gratidão, imortalizado por Divaldo Franco.

Quando somos gratos, obtemos uma perspectiva mais próxima daquela demonstrada por tanto espíritos superiores. Ao praticar a gratidão, tornamo-nos automaticamente mais humildes, mais empáticos, mais compreensivos, mais felizes, mais caridosos. A gratidão anda sempre de mãos dadas com a esperança, com a fé e com caridade; é uma das formas mais eficazes para percebermos, de fato, a presença constante de Deus em nossas vidas.

Sejamos, então, maravilhosamente gratos, por todas as coisas boas que possuímos e que vivemos; sejamos também gratos, como sugere Joanna de Ângelis, por todas as coisas negativas que não nos acontecem; e por último, sejamos também gratos pelas situações difíceis que temos de enfrentar - é através delas que aprendemos, e é através de tais aprendizagens que podemos evoluir mais rapidamente.

Evangelho no Lar : Compromisso e Disciplina

É muito importante a prática do Evangelho no lar. Da mesma forma que é preciso manter a mente em ligação com as vibrações positivas de nossos irmãos superiores, para que, dessa forma, sejamos guiados a pensar, realizar decisões e a nos comportar de acordo com os princípios morais do Evangelho de Jesus, também é preciso manter higienizado o ambiente onde passamos grande parte de nossas vidas.

Somos ainda espíritos em evolução. Por essa razão, é comum termos, ainda, grande quantidade de pensamentos e emoções negativos - sentimos perdidos, tristes, raivosos, culpados... Isso é comum, e não devemos nos julgar menores por sentirmos tais coisas. Porém, todos os nossos pensamentos e emoções são energias que se acumulam no ambiente feito pó. Ora, se nossos pensamentos ainda são majoritariamente negativos, é normal que nos ambientes onde nos encontramos com frequência fiquem acumuladas essas energias pesadas.

Sendo o lar o ambiente principal de nossas vidas - o lugar onde dormimos, comemos, e mantemos nossos laços com as pessoas de nossa família -, teremos certamente grande quantidade dessas energias. Às vezes chegamos em casa esgotados, irritados, melancólicos por algo que nos tenha acontecido durante o dia, e é dentro de nossa própria casa que as energias causadas por esses pensamentos ficam.

É preciso então higienizar o ambiente, para que haja a renovação de energias, para que o ambiente torne-se leve e nos sintamos verdadeiramente protegidos, junto das pessoas que amamos. É através do Evangelho no lar que podemos realizar essa limpeza.

Para aqueles que ainda não têm a prática, pode-se encontrar no site do Centro Espírita Bezerra de Menezes um guia para realização do Evangelho no Lar.

Um dos aspectos mais importantes do Evangelho no lar é a sua frequência. Recomenda-se que se faça o Evangelho no lar uma vez por semana, sempre no mesmo dia e mesmo horário. Isso acontece porque, tal como numa reunião num centro espírita, espíritos protetores se aproximam para nos auxiliar em nossa tarefa (a realização do Evangelho no lar), e se programam para retornar ao mesmo local, no mesmo dia e horário, para o prosseguimento do trabalho.

Por isso é importante saber que o Evangelho no lar é um compromisso - com nós mesmos, com aqueles que moram conosco e com os bons guias do plano espiritual. Precisamos demonstrar seriedade e disciplina em nossa intenção de nos melhorarmos. Por mais que apareçam interrupções ou problemas a serem resolvidos, no dia e horário escolhido para o trabalho, façamos antes de tudo o Evangelho, sabendo que a harmonização do lar e do espírito é uma prioridade.

Não criemos tampouco desculpas para adiar a prática do Evangelho. Mesmo quando envolvidos em atividades importantes, ou prazerosas, não nos fará mal interrompê-las durante alguns minutos para fazer a tão necessária limpeza espiritual de nosso lar. Podemos voltar a elas logo em seguida, com maior disposição para realizá-las, tendo tido nossas energias revigoradas.

Sobre a Reforma Íntima

Hoje pela manhã, lendo as transcrições do julgamento de Joana D'arc, fiquei muito admirada com a clareza e simplicidade dos pensamentos dela. Em todas as respostas, não havia floreios, nem transpareciam concepções ou preocupações desnecessárias. Joana, um espírito altamente evoluído, tinha claramente consciência da continuação da vida e de haver sido bem-sucedida na missão que lhe fora incumbida por Deus, através das vozes de Santa Catarina, Santa Margarida e São Miguel. Essa extrema confiança em Deus transparecia em cada uma de suas palavras, e na ausência de medo que ela mostrava da condenação e da morte.

Numa inspiração, pensei no espírito de Joana como um vaso de água límpida, totalmente clara e consciente - e depois pensei no meu próprio espírito, um vaso de água turva, cheio de preocupações fúteis, de medos e preconceitos: um espírito doente, como o de tantos outros encarnados atualmente na Terra. 

Contei isso por mensagem à minha mãe, logo depois de voltar da faculdade, e perguntei como fazer pra limpar a água suja dos meus pensamentos.

Ela disse que iria me mostrar.

Pela webcam, ela me mostrou um copinho de água limpa e disse que somos criados assim, sem concepções especiais, sem tendência alguma - mas que conforme o tempo passava, nossas experiências fracassadas, maus pensamentos e receios iam manchando a água - e foi adicionando muitas gotas de corantes de cores variadas, até que a água do copo estivesse totalmente escura.

Então, com uma jarra, ela começou a colocar mais água no copo, até que ele transbordasse. Conforme a água nova entrava, a água turva do copo se tornava lenta mas progressivamente mais clara. E ela disse: é assim que se faz - quanto mais se adicionam coisas boas, menos força tem as coisas ruins, até que desaparecem por completo.


Logo o copo estava cheio de água limpa, como no começo. 

Creio ter encontrado nessa simples experiência uma grande lição sobre a reforma íntima, que achei interessante compartilhar aqui. 

Em nosso estado atual, nosso espírito e nossa mente são turvos. Sacrificamos boa parte de nosso tempo útil com preocupações que, após o desencarne não nos servirão para nada - preocupações com nosso status social, com o que os outros pensam de nós, com o acúmulo de bens e de experiências que não nos ensinam nada. 

Felizmente, o quadro é reversível. Não podemos arrancar de dentro de nós as tendências negativas sem adicionar, pelo contrário, tendências positivas. Muitas vezes nos preocupamos demasiadamente em suprimir o mal e, só depois, criar boas condutas, mas isso não é possível. São as condutas e pensamentos positivos que suprimem as condutas e pensamentos negativos. 

Façamos então o melhor para encher nossos vasos (e espíritos) com a água limpa da fé, da alegria, do amor e da caridade, transformando o complicado em maravilhosamente simples. 

Espiritismo e Feminismo - Introdução

Um assunto ainda pouco abordado pelo Espiritismo é o Feminismo, porém, isso não faz dele menos importante para nossos estudos. 

O Feminismo é um movimento que busca, acima de tudo, restabelecer a igualdade de direitos entre homens e mulheres, e dar às mulheres a liberdade de ação e de escolha, como é devida. Através de esforços individuais e coletivos, muitas vezes terminando em perseguições e homicídios, muitas mulheres, através dos séculos, contribuíram para a as conquistas em prol do sexo feminino. 

Em meados do século XIX, o movimento começou a estruturar-se e ganhou o nome de Feminismo, desde então causando controvérsias e polêmicas em nossa comunidade global, essencialmente patriarcal. Essa luta continua até hoje, em todos os países: em alguns deles, conquistada a igualdade jurídica entre os sexos, luta-se pela igualdade de fatos - a licença paternidade, a igualdade de salários, a divisão igualitária de tarefas, entre outros; em outros países, luta-se pelos direitos básicos do ir e vir, do voto e da representação política, do trabalho, da propriedade privada - e até o direito de ser a mulher reconhecida como ser humano. 

Apesar dos inúmeros benefícios conquistados pelo movimento feminista, muitos o consideram « extremista », « agressivo », « desnecessário ». Porém, como espíritas e estudiosos, devemos ter outra abordagem porque melhor esclarecidos.

Compreendemos a lógica da reencarnação. Sabemos que, de acordo com a necessidade ou vontade individual do espírito, ele irá reencarnar na Terra sob a forma de um homem ou de uma mulher, e que esse gênero não é fixo. O espírito encarnado hoje em dia em corpo de mulher, pode voltar na próxima vida em corpo de homem. 

É tudo uma questão de aprendizagem. O espírito encarna em corpo de homem ou de mulher para aprender com as experiências específicas à cada sexo, que são bastante diversas. Como poderíamos ser capazes de compreender o outro, a sua posição no mundo, as alegrias e dores que ele enfrenta, se nunca estivemos em sua pele? 

As diferenças essenciais entre homem e mulher não vêm do espírito; elas derivam antes das experiências que tivemos, em encarnações passadas e na encarnação atual. Modificando um pouco a famosa frase de Simone de Beauvoir, podemos afirmar que não nascemos nem homens e nem mulheres: nós nos tornamos homens e mulheres. E isso faz toda a diferença. 

Porque creio que o Feminismo e o Espiritismo podem ser grandes aliados, escreverei em breve uma série de  artigos sobre o assunto, sempre à luz dos conhecimentos e princípios espíritas. 


Um ótimo texto de Joanna de Ângelis sobre o Feminismo pode ser encontrado no site Psicologia Espírita

Viver melhor : pensar melhor

Frequentemente cremos que, de modo a mudar nossas vidas de maneira significativa, precisamos mudar nosso comportamento. Acreditamos que viveremos melhor se formos mais compreensivos, mais pacíficos, menos tímidos ou menos orgulhosos.

Isso não deixa de ser verdade. Mas temos de manter em mente que o pensamento precede sempre a ação, o comportamento, e até mesmo a forma que percebemos ou interpretamos as diversas situações pelas quais passamos, em intervalos de tempo curtos ou longos.

Viver melhor significa necessariamente pensar melhor. Explico.

Vamos supor uma situação onde nos sentimos ansiosos, seja ela qual for. Podemos tentar suprimir essa ansiedade, de variadas formas: criando hábitos, por exemplo, que nos ajudem a superá-la, ou evitando as situações que nos causam ansiedade. Se fico ansiosa ao falar em público, farei o possível para evitar essa situação. Se fico ansiosa ao pegar um avião, viajarei de carro ou não viajarei -- e caso não puder evitar a viagem de avião, tomarei calmantes ou levarei comigo algum método de distração para diminuir minha ansiedade, como um livro que prenderá minha atenção.

Porém, só superaremos de fato a ansiedade se pensarmos melhor. São os nossos próprios pensamentos que criam a ansiedade, o medo, o ciúme, o orgulho e muitos outros problemas que acabam tornando a vida difícil, dura.

Outro exemplo, mais corriqueiro. Digamos que estou na fila da padaria. Sou a próxima a ser atendida, mas, antes que eu possa fazer meu pedido, alguém entra na minha frente e pede antes de mim, fazendo com que eu tenha de esperar.

De acordo com meus pensamentos, posso interpretar esse acontecimento de diversas maneiras. Posso me sentir inferiorizada, porque sou tão insignificante que a pessoa nem me viu. Posso me sentir humilhada, porque até mesmo pessoas que não me conhecem querem "passar por cima de mim". Posso ficar com raiva da pessoa, acreditando que ela é mal-educada. Posso até mesmo ficar feliz, pensando que assim terei mais tempo para decidir melhor o que vou pedir quando for atendida.

O mesmo se dá com grande números de acontecimentos, todos os dias. Minha interpretação, que é causada por um conjunto de crenças (pensamentos) minhas, ditará então meu comportamento. No exemplo acima, cada interpretação irá gerar uma reação diferente: posso ficar quieta, me sentindo triste; posso chamar a atenção da pessoa e iniciar uma discussão, etc.

Porém, muitos de nossos pensamentos - ou até mesmo a maioria deles - são crenças enraizadas há anos. Por exemplo, no caso da fila da padaria, eu não me sinto inferior porque eu quero me sentir assim. O pensamento da inferioridade já estava lá, dentro de mim, em algum lugar - só esperando um momento para ser legitimado: "viu só! Eu sou tão inferior que ninguém nem me vê! viu só, eu estava certa no fim das contas!".

Essas crenças são difíceis de apagar. Um pensamento que me acompanhou durante anos não vai desaparecer de um momento para o outro. Um pensamento é também um hábito (ou um mau hábito). O que faço com esses pensamentos que não quero ter? Como fazer com que eles desapareçam?

Simples: basta não acreditar nele. Um pensamento só tem força quando você acredita nele e se identifica com ele. Se eu penso que sou inferior, mas não acredito que sou inferior, então eu não me sentirei inferior e não agirei de acordo com esse pensamento infeliz.

"Orai e vigiai", disse Jesus. O que temos de vigiar são precisamente nossos pensamentos. Não nos deixemos levar pelos pensamentos tolos que temos, e são origem de tantas aflições da alma. Deixemos que eles passem, dando importância antes aos pensamentos bons: ao fazer isso, nos tornamos fontes de boas vibrações, colaborando muito mais eficientemente com a evolução de nós mesmos e do planeta.

Bem-Aventurados os Aflitos - Capítulo V - "O Suicídio e a Loucura"

Vivemos em uma época marcada pelo materialismo.

A decepção contínua com as instituições religiosas, ligada à propagação da lógica materialista através de correntes filosóficas bem conhecidas, tais como o niilismo, o liberalismo e o pragmatismo (este último tendo-se tornado grande regente de quase todas as esferas da vida), terminaram por fazer com que grande número de pessoas se desligasse quase completamente da idéia de uma vida espiritual.

O materialismo se sustenta como filosofia, hoje em dia, sobretudo em razão de sua permissividade. Se não existe Deus, se não existe nada além da matéria, não precisamos prestar contas e nem nos responsabilizar pelos erros que cometemos; não precisamos rever nossas condutas contanto que elas nos dêem lucro imediato.

Porém, quando o "lucro" não vem e o sofrimento bate à porte, o materialismo não consola, não fortalece, não provém resposta alguma. E, sem ter mais onde se apoiar, o indivíduo é tomado pelo desespero - resultando, muitas vezes, no suicídio dito "consciente" (em oposição ao suicídio que resulta de graves enfermidades mentais, como a esquizofrenia).

Quando temos a certeza de uma vida espiritual, raramente chegaremos a contemplar tal ato. Sabemos que, ao desistir da vida, aniquilamos qualquer chance de evolução através da encarnação presente, e - pior ainda - contraímos ainda mais dívidas que terão de ser sanadas em encarnações posteriores.

O Espiritismo nos provém, assim, um duplo conhecimento.

Em primeiro lugar, a noção de que o sofrimento é passageiro, a renovação da esperança e da fé no futuro, através da paciência e da resignação. Compreendemos que nosso comportamento atual se refletirá em outras vidas, onde encontraremos situações completamente novas, e que nossas boas escolhas trarão, sem qualquer dúvida, vivências mais felizes.

Em segundo lugar, o conhecimento do que acontece com o espírito, no caso de um suicídio, através dos inúmeros relatos trazidos por médiuns, em forma de mensagens psicografadas. Ao tentarmos abreviar o sofrimento através do suicídio, apenas fazemos com que ele se prolongue.

Como bem nos diz o Evangelho, "(...) podemos concluir que, quando todos forem espíritas, não haverá mais suicídios conscientes", pois a doutrina Espírita nos proporciona muitas razões para opor-se à idéia do suicídio.

Afastemos, então, todas as idéias de auto-aniquilação que possamos ter, levados pelo desespero e pelo sofrimento. Tenhamos fé nas palavras dos irmãos superiores que nunca se cansam de nos prover consolo e amparo, na forma de palavras e vibrações de amor. Sobretudo, abstenhamo-nos de julgar negativamente aqueles que optaram, muitas vezes por falta de conhecimento, pelo suicídio: não somos capazes de compreender o que se lhe passava pela alma; oremos, por fim, para que sejam resgatados, amparados e educados nos hospitais do plano espiritual.

Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai - Capítulo III - "Progressão dos Mundos"

Uma rápida observação da sociedade global, nos dias de hoje, pode-nos deixar com amargas dúvidas sobre a veracidade de um progresso moral em nosso planeta. 


A Era da Informação nos traz quase que exclusivamente, e em ritmo constante, as notas da podridão atual. Se é mesmo verdade que progredimos, por que a violência parece cada vez mais sádica, a corrupção (em todos os sentidos da palavra) mais presente, a intolerância mais radical? Por que a desigualdade cava, ainda, poços profundos entre as classes sociais e os indivíduos? Por que desaparecem os ideais comuns, dando lugar ao individualismo patológico? 

O progresso, porém, é uma das leis naturais. Podemos não percebê-lo diretamente -- e isso se dá mais por conta de nossa incapacidade de ver "o quadro todo" do que por uma ausência de progresso. Mas ele está lá. 

Somente, o progresso não se dá de forma idealizada, ele não se comporta como um conceito e, por isso mesmo, não é tão facilmente reconhecível. Ele se comporta como um organismo que se cura contínua, mas lentamente -- com pequenas recaídas que não comprometem o processo de cura. 

De acordo com Santo Agostinho, se pudéssemos acompanhar todas as fases do mundo, perceberíamos sua evolução progressiva. Contudo, para nós, principalmente enquanto encarnados, essa evolução é praticamente imperceptível. 

A sensação de estagnação (ou mesmo de regressão) que experimentamos atualmente se dá porque atravessamos um momento particularmente crítico da evolução do planeta, que sai de sua condição de mundo de provas e expiações para se tornar mundo de regeneração. Por essa razão, a humanidade parece estar mostrando sua pior face nas últimas décadas -- é o momento de agonia antes da melhora definitiva, com uma concentração de espíritos inferiores que encontram suas últimas oportunidades de reencarnar na Terra. Caso não aproveitem essas últimas encarnações para evoluir de maneira significativa, esses espíritos serão redirecionados para outros planetas (as "outras moradas" às quais se referiu Jesus), para darem continuidade à sua caminhada evolutiva. Simultaneamente, levas de espíritos já um pouco mais evoluídos principiam a encarnar em nosso planeta.

É essa reconfiguração e o trânsito intenso de espíritos de graus bastantes diferentes de evolução que causam o "transtorno" que presenciamos hoje. Porém, trata-se de uma etapa imprescindível para o progresso moral da Terra. 

O trabalho espiritual fora da casa espírita

Algo que tem me passado muito pelo pensamento é como temos a tendência de enxergar a vida espiritual como algo separado da vida física, como se ambas fossem bolhas de sabão que, quando se encontram, se repelem. É melhor não nos enganarmos: simultaneamente espiritual e física, nossa experiência é composta pelas duas bolhas, sobrepostas.

O esquecimento que sofremos a cada nascer não apaga os momentos que passamos na erraticidade -- aliás, muito mais longos que os momentos que passamos encarnados. E, mesmo na Terra, voltamos quase que diariamente ao plano espiritual, durante o sono. Nossa experiência terrena é entremeada permanentemente pela vida espiritual.

Assim, o trabalho espiritual não deve acontecer apenas dentro das casas espíritas durante os horários das palestras, tratamentos e trabalhos mediúnicos.

Diferentemente do trabalho profissional, a tarefa doutrinária não tem horários nem lugares específicos para acontecer: ela deve ser uma prática permanente, cumprida com amor, seriedade e completa dedicação. Mais ainda: ela deve servir de pauta para nossa vida física.

Isto não significa deixar a vida física em segundo plano para entregar-se a horas de orações diárias. Muito pelo contrário. Significa apenas que devemos reconhecer a integração total que existe entre a vida espiritual e a física, sem negligenciar nenhuma delas.

Mesmo fora da casa espírita, o trabalho continua. O mesmo é verdadeiro para aqueles que não frequentam nenhuma casa espírita. As tarefas que aprendemos através dos ensinamentos dos espíritos superiores podem ser praticadas nos ambientes familiares, profissionais, educacionais, sociais -- em todo lugar. Quanto mais percebermos e assimilarmos essa noção de integração, com mais empenho trabalharemos, vendo oportunidades de crescimento em qualquer situação. Com isso, só temos a ganhar.

Amai os vossos inimigos - Capítulo XII - « Pagar o Mal com o Bem »

Eis aí uma dos mais penosos princípios. Se já temos dificuldade em amar e aceitar até mesmo aqueles que nos são mais próximos, se frequentemente nos desentendemos e guardamos rancores (apesar de nossa boa vontade) contra eles, que dizer então dos chamados « inimigos »?

Todos sentimos, em algum ponto de nossas vidas, inimizade por alguém. Por um colega que nos tenta passar para trás, por algum conhecido que insiste em nos destratar, por algum falso amigo. Tentamos evitá-los o máximo possível, sabendo que nosso grau de evolução não nos permitiria qualquer aproximação amigável -- mas, se os evitamos, como podemos amá-los?

Bem, em primeiro lugar, é preciso resistir à compulsão de julgá-los, pois não nos cabe. Sim, é difícil -- mas não impossível. Não conhecemos o que lhes vai no íntimo, e nem devemos ter a pretensão de saber. Pelo contrário, o melhor a fazer é tentar compreender.

Compreender que estamos todos em níveis de evolução diferentes. Que talvez nós não agiríamos da mesma forma que aqueles por quem temos inimizade, mas que isso não nos coloca em posição de julgar ou de repreender. Ainda temos muito o que aprender, nós também. 

Amar nossos inimigos não significa, porém, forçar uma afeição que não sentimos -- não seríamos verdadeiros se assim fizéssemos --, mas não ter sentimentos negativos por eles. Não devemos desejar a eles o mal, e nem ficarmos contentes quando algo de mal lhes acontece. 

É isto o que significa pagar o Mal com o Bem. 

Se desejamos nos tornar pessoas melhores, precisamos agir como pessoas melhores desde já. Ao invés de devolvermos uma ofensa, de combater palavras duras com mais palavras duras, é melhor nos calarmos e tentarmos remover a mágoa de dentro de nós mesmos. E a melhor forma para isso é compreender que nenhuma ofensa é pessoal -- ela é apenas o reflexo do desequilíbrio interior daquele que ofende. 


Não nos deixemos desequilibrar. Façamos o nosso melhor para manter-nos serenos, dirigindo uma prece àquele por quem temos inimizade, envolvendo-o em luz para que logo em breve, nas próximas encarnações, possamos nos reencontrar, cada vez melhores e na mesma sintonia de benevolência.

Escutando Sentimentos

(trecho do livro Escutando Sentimentos, de Ermance Dufaux, psicografado por Wanderley de Oliveira. Sei que a publicação de um trecho de um livro sai um pouco do meu propósito inicial para este blog, mas eu precisava compartilhar esta mensagem, que aliás complementa muito dos textos do Evangelho que já comentei aqui. O livro em formato pdf encontra-se integralmente na seção "Obras Originais")

Amigo  querido  das lides espiritistas,  nos instantes de tormenta ocasionados pelos efeitos de tuas imperfeições,  busca Deus na oração  e escuta tua alma. Ouve os ditames suaves que ela te envia. Não os julgue agora e enquanto meditas. Indaga‐te: que fazer ante os impulsos menos felizes? Como agir para mudar? Ouve! Ouve a resposta em ti mesmo! Escuta teus sentimentos! Ora novamente, aquieta os raciocínios e escuta os “sons” dos sentimentos nobres que te arrimam.

Estás agora em estado alterado de consciência. Tua sombra avizinha. Teu self permanece em vigília. Tonifica‐te com as energias revigorantes. Agora agradece o dom da vida... O corpo... A beleza  de pertencer  a ti mesmo.  A presente existência é a tua oportunidade.  É  a tua ocasião  de libertar. Recomeça quantas vezes se fizerem  necessárias. Perdoa‐te pelos insucessos. Recorda as muitas vitórias e preenche‐te com o labor. Algumas respostas para serem compreendidas solicitam o concurso do tempo. Prossegue sem ilusões de conforto. Deseja o sossego interior e acredita merecê‐lo, mas não o confunda com facilidades transitórias.

Teus sentimentos: a realidade de tua posição espiritual. Por eles sabes de teu valor e de tuas necessidades.

Não te agrida quando sentires o que não gostarias.

Ama‐te ainda mais nesses momentos.

Aceita‐te.  Diz: eu aceito minha imperfeição. Senti‐la não quer dizer que eu seja menor. Eu  aceito  minhas particularidades.  Eu  me amo  como  sou  e não  me abandonarei porque
somente eu posso me resgatar.

Agora vai cumprir teu dever – esse sublime “analgésico mental”.

Em outros  instantes,  fora da tormenta mental, medita sobre aquilo que te incomodou. Medita sempre sobre tuas imperfeições e Teu Pai, secretamente, na acústica do ser, providenciar‐te‐á os recursos abundantes para tua cura.

Deus jamais te esquece.

Acredite nisso  e sente o  amparo  em teu  favor.  O  universo está a teu favor. Acredita.

Bem-Aventurados os Aflitos - Capítulo V - "Esquecimento do Passado"

Muitas vezes somos tomados pela curiosidade de saber sobre o que fizemos, ou o que fomos, em encarnações anteriores. Tenho certeza que um dos primeiros pensamentos que temos, ao estudar a reencarnação, é "quem será que fui? Em que época vivi?". Eu, ao menos, passei muito tempo pensando nisso, quando era mais jovem, a ponto de considerar sessões de regressão.

Talvez queiramos saber que, em uma existência anterior, fomos diferentes, famosos, importantes. Que contribuímos, de alguma forma, para a evolução do planeta, na forma de pensadores, inventores, escritores, médicos. Nem tanto por vaidade, mas para chegar a uma espécie de paz: "ao menos", podemos pensar, "eu já fiz algo de valor".

Nos esquecemos, porém, que apenas começamos nossa escalada em direção ao Bem e que, mais provavelmente que não, cometemos erros, desperdiçamos oportunidades, magoamos aqueles que amávamos e que, muitas vezes, reencarnaram em nosso meio atual de convivência.

Nos sentiríamos humilhados, se nossos próximos soubessem de todos os erros que cometemos na presente encarnação; muitas vezes, nos sentimos humilhados ao ter de admití-los até a nós mesmos. Convém então perguntar o que sentiríamos se adicionássemos as falhas do passado às falhas atuais? Naturalmente, nos sentiríamos bem mais desanimados, sabendo de todas as vezes que reincidimos nos mesmos erros.

Deus sabe o que faz. Se o esquecimento do passado é obrigatório, há razões para isso, até mesmo além das que conhecemos.

Diversas vezes, em nossa vida, desejamos a chance de começar de novo, por diferentes razões: quando decidimos nos reorientar profissionalmente, procurando uma ocupação mais adequada às nossas aspirações; quando relacionamentos que acreditávamos indestrutíveis terminam, nos deixando desconfiados e magoados; quando, por qualquer motivo, nos sentimos enfraquecidos por um conjunto de experiências difíceis e precisamos de uma renovação de nossa esperança e de nossa fé.

Reencarnar é a chance desse novo início, em todos os sentidos. Ainda que voltemos, muito frequentemente, em meio aos mesmos espíritos que nos eram próximos em encarnações anteriores, nossa relação com eles é totalmente restaurada para que tenhamos nova chance de reparar o mal que a eles fizemos.

Não precisamos saber quem fomos ou como agimos no passado, para evoluirmos. Nossas tendências, para bem ou para mal, continuam as mesmas, pois o espírito é o mesmo. Através da observação dessas tendências, das pessoas e das situações que aparecem em nossa vida atual, é possível compreender o que temos de melhorar, quais qualidades precisamos desenvolver e o que ainda precisamos corrigir.

É claro que não nos tornaremos espíritos completamente puros em apenas uma encarnação. Mas um primeiro passo já é um passo, que nos levará ao passo seguinte e ao seguinte a este.

Podemos argumentar que, conhecendo ao menos aquilo que nos propomos a fazer, enquanto estávamos no plano espiritual, poderíamos cumprí-lo com maior facilidade. Talvez isso seja verdade. Mas seríamos realmente verdadeiros, se estivéssemos apenas cumprindo uma lista de afazeres? Estaríamos realmente nos empenhando em procurar caminhos, se já tivéssemos nas mãos um mapa?

Não precisamos, em verdade, de um mapa. Nossa consciência já atua como uma bússola, nos indicando sem cessar o caminho que nos convém seguir: é preciso, porém, aprender a escutá-la, pedindo sempre o auxílio dos espíritos superiores em nossas preces, e nos comprometendo a segui-la.

Bem-Aventurados os Misericordiosos - Capítulo X - "O Argueiro e a Trave no Olho"

É bem conhecida a analogia que fez Jesus, ao nos explicar um dos mais profundos males da humanidade. Temos conosco, em razão de nosso grau inferior de evolução, a tendência de julgar duramente os outros por seus erros, ao passo que, em relação a nossos próprios erros, somos poços de indulgência.

Onde está nisso a caridade e o perdão?

Por tantas vezes já ouvimos sobre os benefícios infinitos do perdão, da humildade e da misericórdia; ainda assim, a mensagem já decorada pelo cérebro pouco afeta o coração.

Continuamos reproduzindo, apesar de nossas boas intenções, os erros originados no orgulho e na arrogância. E até mesmo nossa formação espírita pode se tornar uma armadilha e fazer com que nos acreditemos mais importantes, mais informados ou até mesmo, de certa forma, superiores àqueles que seguem outras doutrinas ou que não seguem doutrina alguma.

Tal conduta só serve para mostrar a nós mesmos nossa própria insegurança, que tem por origem a sensação de inferioridade natural que sentimos por termos nos afastado do Criador, caindo nas fileiras da maldade.

Assim, uma das melhores formas de reconstruir as pontes que nos ligam a Deus é exatamente a autoaceitação, o reconhecimento de nossas fraquezas, a misericórdia com os outros, a alegria sincera pelo sucesso alheio, a tomada da responsabilidade por nós mesmos. Tudo isso tem apenas um nome: o autoamor.

Quando nos aceitamos e nos amamos, não temos necessidade de procurar o mal em outrém para nos envaidecermos. Sabemos quem somos, compreendemos os limites que nos impõe nosso grau de evolução e, em contato com o outro, buscamos nele o melhor, perdoando-o por suas próprias limitações.

É esta uma das formas mais belas de caridade.

Procuremos, através da reforma íntima e do autoconhecimento, a retirada da trave de nossos olhos, através da aceitação e do amor a nós mesmos; é esta a única forma de amarmos também ao próximo.

Trabalhadores da Última Hora - Capítulo XX - « Missão dos Espíritas »

O ingressar no estudo do Espiritismo é, por si, uma missão. Imbuídos de centenas das respostas às perguntas que assolam a alma da humanidade há séculos, temos o dever de "não colocar a candeia debaixo do alqueire" e partilhar, o quanto for possível, de tais conhecimentos.

O espírito Erasmo, em breves mas preciosas linhas, nos convida à pregação dos princípios divinos, com amável atenção ao conhecimento da reencarnação, conceito fundamental da Doutrina Espírita.

Tal pregação, porém, não será necessariamente o falar às grandes multidões. Para tal trabalho, não será nem mesmo necessário ter as qualidades do bom orador ou os méritos adquiridos nos cursos de expositor. Pregaremos aos nossos conhecidos, a nossos parentes e amigos, através da conversação gentil, respeitando sempre o livre-arbítrio alheio.

Em nosso tempo de mídias sociais, em que a comunicação atinge patamares outrora desconhecidos, a difusão do conhecimento que adquirimos através do estudo do Espiritismo torna-se ainda mais simples.

Diremos talvez palavras que se perderão na recusa e no desinteresse, mas não devemos deixar que o desânimo nos atinja: haverá sempre alguém para escutá-las, encontrando nelas o tão esperado consolo.

As palavras, porém, não são a única forma: nossas ações falam sempre muito mais alto. De nada adiantarão as pregações vazias, exigindo do outro a resignação e a humildade, quando nós mesmos não agimos de acordo.

A mensagem que proferimos deverá também ser ouvida e seguida por nós mesmos. Desta forma, ao ver-nos resignados diante do sofrimento, cheios de fé e alegria pela tão rara chance do aprendizado através da reencarnação, aqueles que nos rodeiam terão diante de si a prova viva da veracidade das idéias e princípios pregados.

Falemos, sempre com a esperança de que nossas palavras não serão perdidas, mas, acima de tudo, façamos de nossas vidas a própria pregação.

Pequena discussão sobre a Fé e a Razão

Este pequeno texto, de intuito explicativo, foi escrito por mim há alguns anos. Resolvi colocá-lo aqui apenas a título de complementação aos estudos do Evangelho Segundo o Espiritismo e da Doutrinha Espírita como um todo. 



Tomando como ponto de partida o mito de origem da humanidade retratado no Evangelho, ou seja, a história de Adão e Eva e sua expulsão do paraíso edênico, pode-se afirmar que a Razão é o primeiro impulso humano. É o desejo do conhecimento, da ciência, a vontade de saber tudo através de seus próprios meios. Por si só, tal atitude não tem nada de repreensível, e a "expulsão do paraíso" não significa a repreensão -- antes, ela significa o afastamento do homem da fé cega, para que, após adquirir o conhecimento necessário, retorne à fé, mas a uma nova fé. 

A fé, destituída da razão, não serve para muita coisa -- sem o conhecimento de causa, ela se assemelha mais à submissão e talvez até a uma certa imaturidade espiritual. A fé renovada, trazida a nós pela Doutrina Espírita, acontece através da transcendência da própria racionalidade.

O espírito atinge a maturidade da fé a partir do momento em que, adquirido certo grau de conhecimento, que em muitos casos pode empurrá-lo na direção do infértil ceticismo, ele o transcende e cria a coragem e a humildade para crer naquilo que, no meio científico materialista, é julgado "inviável". A razão é necessária, pois o conhecimento e o amadurecimento intelectual são necessários, mas tornar-se prisioneiro da matéria e do "ver para crer" é uma falha tão grande quanto a fé cega, tão reprovada pelos mesmos meios científicos.

Os homens foram colocados no mundo (ou "afastados do paraíso") para que aprendam por si mesmos, seguindo o mesmo princípio das conhecimento empírico, e para que, só então, reconheçam com humildade que a "razão pura" tem limites: ela abrange certos graus de conhecimento, mas é incapaz de transcender a matéria.

Segundo Platão, a Verdade não pode ser alcançada somente através do exercício da dialética, que se baseia no princípio de que toda hipótese encontrará sua antítese e então, a partir da união das duas, será gerada uma tese, que se transformará numa hipótese, encontrará sua antítese, e assim por diante -- sendo esse o princípio de todo pensamento racional: para Platão, a dialética pode explicar o mundo até certo ponto e, após isso, é preciso elevar-se acima dela e, através de Eros (o Amor), encontrar a Verdade.

O Eros de que fala Platão é precisamente a fé renovada da qual falamos. 

Não se trata de abandonar a capacidade de pensamento crítico -- muito pelo contrário; o pensamento crítico e racional, é em realidade um degrau necessário para a ascensão ao verdadeiro pensamento, que se desliga da matéria para superá-la.

Da mesma forma, o corpo é necessário para a vida na Terra, e reconhecemos suas limitações: ele precisa de alimento, descanso e saúde para funcionar, o que impossibilita sua autonomia; a razão, também, não é autônoma. Assim como o espírito imortal se aprimora através da vivência terrena, o pensamento se aprimora através da razão -- e a consciência da vida espiritual, além da matéria, é exatamente a consciência da fé, que é o pensamento autônomo, completo, que articula o conhecimento terreno com o conhecimento espiritual: a maturidade última do pensamento. 

Sede Perfeitos - Capítulo XVII - "O Homem no Mundo"

Por mais que a vontade de servir a Deus seja grande, e por mais importante que seja seguirmos os seus princípios, não nos esqueçamos que, enquanto encarnados, fazemos também parte do mundo físico. 


Não precisamos - e nem devemos - nos entregar a uma espécie de vida mística, isolada da vida em sociedade, como tantos o fizeram, buscando agradar a Deus. Não se agrada a Deus através da fuga. 

Nossa existência temporária na Terra é uma condição imprescindível para nossa evolução, exatamente pelas inúmeras dificuldades que temos de atravessar. Ao nos isolarmos, nada mais fazemos do que estacionar: não aprendemos nada, não nos movemos, não evoluímos; pelo contrário, nos tornamos água parada, inútil e malsã. 

Já que estamos aqui, aproveitemos as oportunidades que nos caem nas mãos diariamente. Temos de viver "com os homens de nosso tempo", ou seja, nos interessando às questões da vida social, econômica, política, e até mesmo às questões banais de cada dia - porém, como bem nos diz o Evangelho, cada uma de nossas ações deve ser feita com um "sentimento de pureza que as possa santificar". 

Tal mensagem cai bem no momento em que vivemos em nosso país, onde fervilham os protestos e manifestações em muitas cidades: são vozes que reivindicam, que expressam, que criticam, mas que acima de tudo pedem para ser ouvidas - e é importante ouvi-las: são estas as vozes que perfuram as paredes que separam as questões públicas das questões privadas, pedindo espaço para a interferência do povo em áreas praticamente impenetráveis e que são do interesse de todos. 

Devemos tomar tais questões e situações como as ferramentas necessárias para nosso aprendizado.  Não aprende nada aquele que, sentado à janela, exclui-se da vida comum, parabenizando-se pelo mal não feito ou por sua posição "acima" de tudo aquilo. Estamos aqui; fazemos parte; devemos lidar com a realidade que nos rodeia, ou "perderemos" esta encarnação, estagnados. 

A pessoa virtuosa é alegre, consciente, ativa; ao entregar-se a qualquer ato, volta seu pensamento ao Criador, com pedidos de proteção e apoio, tendo sempre confiança de que Sua vontade será feita, resultando no melhor possível para todos os envolvidos. A perfeição e a virtude não estão na inação, na renúncia, no isolamento: como poderíamos, por exemplo, ser caridosos, se nos isolamos? 

Vamos então seguir o ensinamento do espírito protetor que, no final desta mensagem, nos diz: "sede felizes no quadro das necessidades humanas, mas que na vossa felicidade não entre jamais um pensamento ou um ato que possa ofender a Deus, ou fazer que se vele a face dos que vos amam e vos dirigem". 


“Sede Perfeitos” - Capítulo XVII - Caracteres da Perfeição

Ao ler a máxima que proferiu Jesus, “sedes perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito”, é preciso que saibamos no que consiste a perfeição, e como podemos alcançá-la.

Antes de tudo, devemos notar que a perfeição da criatura - ou seja, nós, que fomos criados por Deus - não é a mesma perfeição do Criador. Se pudéssemos alcançar a Deus em sua perfeição, nos igualaríamos a ele, o que é, como nos dizem os bons espíritos, inadmissível. Quando, através de nossos esforços, alcançarmos a perfeição, ela será de natureza relativa - e não absoluta, como a perfeição divina.

É a esta perfeição relativa que nos referimos quando falamos dos Espíritos Perfeitos, tais como Jesus. Ela consiste, basicamente, no maior grau de pureza possível a nós, espíritos imortais.

Herculano Pires, em seu livro “O Ser e a Serenidade”, dá algumas boas explicações a propósito da perfeição, visto que, para ele, o homem torna-se sereno ao respeitar três simples princípios:
- elevar-se sobre as circunstâncias;
- buscar sempre a perfeição;
- não se deixar abater.

Por enquanto, nos focaremos somente  na “busca da perfeição”. Para Herculano, a perfeição começa nas minúcias para, mais tarde, passar às estruturas de nosso comportamento. Com cuidado para não tombar na agonia do perfeccionismo, cada tarefa à qual nos dedicamos deve ser feita com a maior perfeição possível - ou seja, com atenção, paciência e dedicação. Esta busca pela perfeição é um dos primeiros passos na busca da serenidade, a qual Herculano define como “aproximar-se de Deus”.

No Evangelho, fala-se sobretudo da perfeição moral, que tem suas bases em princípios que já nos são bem conhecidos: a caridade e a humildade, que se contrapõem ao orgulho e ao egoísmo.

Conforme o homem evolui, percebemos que, moralmente, ele produz um movimento de abertura em relação aos outros homens. O egoísmo e o orgulho o mantém fechado em si mesmo, temeroso e ressentido; a caridade e a humildade, por outro lado, fazem com que o espírito se desenvolva, crescendo na direção de todos os seus irmãos, para amá-los e ampará-los.

Herculano Pires têm toda a razão em citar a busca da perfeição como uma das fontes da serenidade, pois uma não existe sem o amparo da outra. Uma vez que o homem se liberta de seu próprio egoísmo e de seu próprio orgulho, ele já não tem o que temer: ele se posiciona corretamente abaixo de seu criador e ao lado de seus irmãos, ganhando em perspectiva e confiança, o que só pode resultar num estado de serena resignação.

A perfeição resume com maestria a finalidade de nossa estadia na Terra. Que estamos esperando para empreender em sua busca?

Libertação - Joanna de Ângelis

O texto analisado desta vez não foi retirado do Evangelho Segundo o Espiritismo, mas do livro Momentos de Felicidade, de Joanna de Ângelis, psicografado pelo médium Divaldo Franco. Infelizmente, não encontrei o livro digitalizado, mas o link para o texto original encontra se na seção "Obras Originais".


Segundo Joanna de Ângelis, a libertação é uma das mais importantes finalidades da encarnação, no que se refere à auto-iluminação progressiva do espírito. O que significa, porém, tal libertação? De quê ou de quem devemos nos libertar?

Como espíritos encarnados, não podemos nos livrar facilmente das influências e dos determinismos da sociedade que nos rodeia. Desde a infância, essa sociedade nos impõe certos valores que devem ser adquiridos, para sermos aceitos socialmente - é bem conhecido que a sensação de não estar bem integrado à sociedade ou à comunidade traz ao indivíduo sofrimento e angústia, podendo até mesmo levá-lo ao suicídio.

Os valores que a sociedade atual nos propõe giram ao redor dos prazeres imediatos, do acúmulo de experiêcias muitas vezes desnecessárias, da posse de bens materiais, do individualismo egoísta. Não é fácil ignorá-los, ou tomá-los pelo que realmente são: construções sociais que nada têm de absoluto - modismos construídos pela mídia e pela publicidade.

É desses valores terrenos que devemos nos libertar, num primeiro momento.

Isto não quer dizer que não podemos sonhar com situações melhores e com a aceitação social, ou que não devemos buscar a realização de nossos projetos pessoais. Porém, devemos ser cuidadosos na escolha de nossos objetivos; selecionando aquilo que nos é realmente importante e aquilo que é um reflexo do que somos “ensinados a desejar”.

Num segundo momento, é de nós mesmo que devemos nos libertar - de nossas inclinações negativas, de nosso orgulho e egoísmo, e de nossas vontades insaciáveis. Para isso, porém, é preciso criar "condições favoráveis ao desenvolvimento dos valores éticos e espirituais que não devem ser postergardos”.

Joanna de Ângelis nos dá o exemplo da solidão e do silêncio, que, para uns, são motivos de tristeza, causando sensação de vazio e abandono; e que, para outros, são instrumentos de meditação, refazimento das forças, reflexão e auto-conhecimento. Ela nos sugere, então, a busca desses espaços, no nosso cotidiano, onde possamos encontrar o isolamento e o silêncio, deixando que a meditação nos refunde nossos valores intímos, nos libertando das paixões momentâneas.

Dessa forma, é possível alcançar a calma, a serenidade e a sobriedade necessárias para colocarmos nossa vida e nossas atividades em perspectiva, identificando aquilo que nos é prioritário, aquilo que realmente desejamos e buscamos, e aquilo que desejamos por influência exterior. São estes os primeiros passos para o auto-descobrimento.

Fora da Caridade não há Salvação - Capítulo XV - “O Maior Mandamento”

A caridade e a humildade são os princípios regentes do “maior mandamento”: amai a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo - somos caridosos diante do próximo e humildes diante de Deus, o que tem por consequência uma mudança significativa da nossa perspectiva.

Ao aplicar o divino mandamento, temos melhor consciência de nossa posição face à vida. Acima, está Deus; ao redor, nossos irmãos, a quem devemos tratar sempre como iguais, lançando mão da paciência e da compaixão. É esta a nossa maior missão, o grande aprendizado ao qual devemos nos lançar diariamente.

Já falamos sobre como a caridade traz benefícios a todo tipo de convivência. Lembremo-nos então do princípio da humildade, outro grande pilar de aprendizado.

É somente diante da vontade divina que devemos curvar-nos, visto que, entre espíritos encarnados, estamos entre iguais; todos temos falhas e defeitos e, por vezes, sérias faltas das quais nem desconfiamos nos mancham o espírito e o passado. Que direito temos nós, então, de nos considerarmos superiores ou inferiores aos outros?

Da mesma matéria-prima fomos criados, todos com ao mesmo potencial, com a mesma capacidade de desenvolvimento. As diferenças que vemos hoje em dia vêm dos erros e acertos que todos cometemos, e que sulcaram, como rios, diferentes desenhos em nossa face espiritual. Contudo, estas diferenças são temporárias, pois estamos todos fadados à pureza e à perfeição, e não devemos levá-las excessivamente em consideração.

Havendo então, o mesmo início, as mesmas capacidades, e o mesmo destino, não há motivos para não nos considerarmos iguais, o que quer dizer que também não há motivos para não agirmos com humildade em qualquer situação.

A humildade nos dá a precisa noção de nossa falhabilidade, nos livrando do orgulho; dá-nos a possibilidade de encontrar conhecimento e sabedoria em pessoas e lugares que não esperávamos; ela é a responsabilidade e o mérito compartilhados, na casa e no trabalho.

Porém, é somente ao dosá-la com a caridade que a humildade pode se fazer sentir, fechando assim o círculo perfeito que é o Maior Mandamento.

Não podemos realmente amar a Deus sem a aplicação destes dois princípios, isto é, amando ao próximo; ao atentarmos contra o próximo, é contra Deus que atentamos. Assim, como nos diz o Evangelho, “todos os deveres do homem se encontram resumidos nesta máxima: fora da caridade não há salvação”.

Muitos os Chamados e Poucos os Escolhidos - Capítulo XVIII - “Parábola da Festa de Núpcias”

Na parábola da festa de núpcias, Jesus nos conta a história de um rei, que celebrava o casamento de seu filhom e enviou seus servos a chamar os convidados para um grande branquete; estes convidados, porém, recusaram o convite, e alguns, ainda pior, zombaram dos servos enviados pelo rei e os mataram. O rei, entãom destruiu aquela cidade, e mandou que seus servos convidassem a todas as pessoas que vissem para o banquete, e muitos deles vieram. Porém, já à mesa, o rei viu que um dos convidados não estava vestido com veste nupcial, e mandou atirá-lo às trevas: “pois muito são os chamados e poucos os escolhidos”.

Podemos compreender, logo à primeira leitura, do que se trata a parábola. O rei é, certamente, o próprio Deus, chamando seus convidados ao banquete, ou seja, ao reino dos céus; os servos são os profetas, enviados para propagar a palavra divina, mas rechaçados e ridicularizados.

No que se refere aos primeiros convidados, o Evangelho nos explica que se trata dos judeus, o primeiro povo de toda a humanidade a ser publicamente monoteísta (até a época de Jesus, todos os outros povos eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses ao mesmo tempo). Em razão da melhor compreensão que tinham os judeus, foram eles os primeiros convidados de Deus: foi a eles que Deus trasmitiu seus ensinamentos, através de Moisés e Jesus.

Estes ensinamentos, porém, foram facilmente esquecidos, em nome do dinheiro, do orgulho e da corrupção; como consequência, vieram a incredulidade e o fanatismo, e desta forma os judeus perderam o lugar privilegiado que tinham na seara divina.

Os próximos convidados foram todos os outros povos, por entre quem a palavra divina foi difundida e que, caso a aceitassem, seriam admitidos no “banquete” ao invés dos primeiros convidados.

Entra aí o grande ensinamento da parábola: não basta comparecer ao banquete, esperando receber as bênçãos divinas sem esforço; é preciso vestir a túnica nupcial, ou seja, purificar o coração, deixando de lado nossas inclinações negativas e trabalhando sempre para colocar em prática os princípios de Deus.

Muitos são os chamados para o banquete celeste - em realidade, todos fomos chamados, por centenas de vezes - mas só nos será permitido entrar quando formos verdadeiramente merceredores.

Bem-Aventurados os Aflitos - Capítulo V - "O Mal e o Remédio"

Neste pequeno texto, Santo Agostinho nos chama a atenção para um ponto essencial de nossas experiências na Terra — estamos, aqui, em um "vale de dores", não em um paraíso.


Isto não quer dizer que estejamos aqui para sermos punidos. Muito pelo contrário. Os sofrimentos que conhecemos são meramente a forma mais adequada de aprendermos o Bem, de acordo com nosso grau de evolução. Não é preciso procurar muito para percebermos em nós mesmos graves falhas de caráter, mas isso não nos deve desanimar. 

Somos como crianças em pleno percurso escolar. Da mesma forma que não se censura a uma criança de não "nascer sabendo", não devemos nos censurar por ainda não sermos espíritos elevados: devemos estudar, aprender e passar pelas diversas provas que se impõem em nosso caminho, agradecendo pela oportunidade do crescimento espiritual. 

É desta forma que devem ser encaradas as dificuldades — como oportunidades de crescimento e de elevação que precisam ser bem aproveitadas. 

Como qualquer especialista de qualquer área de conhecimento, ou qualquer profissional técnico, nossas capacidades só podem se expandir quando nos encontramos diante de graus progressivos de dificuldade. Um professor não será um professor caso ele tenha o mesmo nível de conhecimento que seus alunos. Um marinheiro jamais será verdadeiramente um marinheiro se não se aventurar além das águas rasas. 

Quanto mais difícil a prova, mais gloriosa será a vitória e mais rápido chegaremos às vidas tranquilas e felizes que nos esperam, logo ali em frente. 

O remédio proposto por Santo Agostinho já nos é bem conhecido. Trata-se da . É dela que devemos nos munir para enfrentar tais dificuldades, e é somente da esperança que ela traz que podemos nos alimentar, dia após dia, a fim de melhor lidar com nossas tantas situações difíceis. A fé nos mantém seguros da utilidade do sofrimento — caso contrário, os veríamos apenas a curta distância, sem identificar neles qualquer propósito. 

É quando lançamos mão da fé que permitimos a Deus de intervir em nossas vidas, aliviando automaticamente o peso de nossos sofrimentos. 

Creiamos então, sem nenhuma dúvida, nas doces palavras de Santo Agostinho: "Felizes os que sofrem e choram! Que suas almas se alegrem, porque serão atendidas por Deus".


Que a Mão Esquerda Não Saiba o Que Faz a Direita - Capítulo XIII - "Cáritas, Lyon, 1861"

A caridade toma diversas formas.

Não apenas aquela da ajuda material em relação aos que possuem pouco, muito menos do que nós, sob a forma de moedas, roupas, alimento.

A caridade também pode ser exercida entre pessoas de iguais condições materiais, através da indulgência, do apoio moral, da ajuda espiritual. Os atos mais simples do dia-a-dia, como escutar, sem julgamentos e sem tentar impôr nosso ponto de vista, a alguém que precisa desabafar sobre seus problemas, ou fazer o máximo para compreender alguém que segue um estilo de vida diferente do nosso, podem ser grandes atos de caridade.

Somos caridosos quando perdoamos os deslizes alheios.

Somos caridosos quando, com humildade, admitimos nós mesmos os nossos deslizes, e trabalhamos para não repetí-los.

Somos caridosos quando, guiados pelos bons espíritos, nos sentimos inspirados a fazer algo de bom a alguém, sem esperar retorno ou reconhecimento, sabendo que a recompensa é o próprio ato caridoso em si.

Somos caridosos quando reconhecemos a humanidade de todos, quando nos propomos a tratar com gentileza e simpatia até mesmo aqueles que a sociedade exclui ou incrimina.

Somos caridosos quando nos abstemos de julgar. Não somos capazes, enquanto encarnados, de compreender todas as razões pelas quais alguém age de certa maneira, já que não podemos penetrar em seu íntimo.

Somos caridosos, como nos lembra Cáritas, quando amigavelmente introduzimos aqueles que não pensam como nós à doutrina espírita — não para "convertê-los" ou para mostrar superioridade, mas para que eles, como nós, possam encontrar apoio, consolo e conhecimento nos ensinamentos dos bons espíritos.

Como se vê, a caridade é tão flexível, tão adaptável, que podemos encaixá-la em praticamente qualquer situação do nosso cotidiano, sabendo que seu uso só poderá trazer benefícios — às pessoas com quem convivemos e a nós mesmos.

Sejamos, então, de todas as formas possíveis, caridosos.

Bem-Aventurados os Aflitos - Capítulo V - "Motivos de Resignação"


A resignação anda sempre de mãos dadas com a fé — ela é, em verdade, uma das formas de aplicar a fé em nosso cotidiano. O que caracteriza a resignação é a aceitação completa, não apenas do sofrimento em si, mas de todas as circunstâncias que se encontram fora de nosso controle. É através dela que aprendemos que debater-se não nos leva a nada.

A partir do momento em que temos plena consciência do fato da reencarnação, ou seja, da existência de múltiplas vidas para um só espírito, não há grandes desculpas para negar-se à resignação. Sabemos bem que o sofrimento que encontramos nesta vida é muitas vezes consequência de alguma falha que trazemos no espírito e que devemos consertar — é sempre dolorido tocar em antigas feridas, mas é a única forma de realmente curá-las. 

Mais do que isso, sabemos que o sofrimento é passageiro. Lembro-me de ter lido um livro, há algum tempo, que dizia que todas as circunstâncias são nuvens — vagarosamente passam, transformando-se diante de nossos olhos. De modo que é tolice apegar-se a elas, sejam boas ou ruins. 

Acreditar que uma determinada situação irá durar para sempre é o mesmo que acreditar que as nuvens estejam pregadas no céu. 

É possível que tenhamos uma visão um pouco distorcida da resignação. Quando falamos dela, podem vir à mente imagens ligadas à estagnação, à falta da escolha individual ou até à uma certa imaturidade intelectual. Devemos, porém, nos assegurar que não é disso que se trata a resignação. 

Resignar-se é simplesmente aceitar a vida tal como ela é, e nada além disso. De que adianta debater-se diante de uma situação que não se pode mudar, recusando-se até mesmo a admitir que ela existe? 

Porém, muita atenção: a aceitação de uma circustância não quer dizer imobilizar-se diante dela. Muito pelo contrário — essa aceitação nos chama à ação, à procura de outras possibilidades. Não devemos nos martirizar pelo que perdemos, mas sim adaptar-nos à nova situação que se apresenta. 

Esta resignação só é possível quando escolhemos manter um ângulo de visão amplo (e nisto, o conhecimento da reencarnação pode nos ajudar muito). Reconheçamos, então, três fatos importantes:

- O sofrimento é sempre temporário.
- O sofrimento é um modo de sanar dívidas contraídas nesta encarnação, ou, em outro casos, em encarnações anteriores, de modo que ele é, muitas vezes, uma chance que nos é dada, e pela qual devemos agradecer.
- No fim das contas, não existem acontecimentos bons e nem acontecimentos ruins: a vida se apresenta diante de nossos olhos tal como ela é, e somos nós que, impregnados com os valores transmitidos pela sociedade, julgamos os acontecimentos como « bons » ou « ruins », de acordo com o que nos parece melhor. Porém, muitas vezes algo que julgamos como « bom » se desenrola em consequências consideradas ruins, e vice-versa. 

Viver em resignação, alegrando-se por todas as chances que se nos apresentam, constitui a única verdadeira forma de liberdade que podemos ter, enquanto encarnados.

Vivamos, então, cada dia aceitando as surpresas e os sofrimentos da vida como se estes fossem selecionados a dedo pela vontade divina, visando apenas o nosso bem, sem aflições e sem conflitos desnecessário, em completa aceitação à vontade de Deus. 

O Poder da Fé - Capítulo XIX « A Fé que Transporta Montanhas »


Muitas pessoas, ao ler a passagem do Evangelho onde Jesus nos diz que, se tivéssemos fé como um grão de mostarda, seríamos capazes de mover montanhas, acabam se deparando com numerosas dúvidas. « O que é a fé? Como ter fé? Como saber se tenho fé? »

Antes de tudo, temos de ter em mente que a fé não é um conceito — ela não é algo externo a nós, algo que temos que « correr atrás » para conseguir. A fé é um modo de viver todos os dias. Ao invés de buscá-la, é preciso fazer a escolha de viver com fé, tendo sempre a consciência de que ela terá de ser cultivada, com a paciência de quem deposita na terra uma semente, nutrindo-a e cuidando dela até que se torne uma árvore de onde se possa colher frutos.

Mas a fé é uma árvore estranha, diferente; não é nos dias ensolarados de primavera que ela floresce, mas sim durante as piores tempestades. É nos momentos de aflição que ela mostra todo seu esplendor, curvando-se para nos abrigar, nos confortando com a certeza da presença de Deus, nos dando confiança e esperança para prosseguir. 

Essa confiança, como bem nos lembra o Evangelho, não deve ser confundida com a presunção. A fé caminha sempre lado-a-lado com a humildade, porque mais do que uma confiança em si mesmo, ela é uma confiança em Deus.

Por isso mesmo, a fé pode apresentar-se como uma espécie de serenidade, de calma diante das mais difíceis circunstâncias. Ela é a própria sabedoria, adquirida progressivamente, através do reconhecimento da supremacia da vontade divina. Não nos ajuda em nada a fé aflita, vacilante, que desmorona ao contato das primeiras chuvas e que não crê na possibilidade da vitória. 

É através da fé, como nos mostra o Evangelho, que o homem é capaz de manipular o fluido universal*, modificando-o, principalmente quando esta fé se materializa em forma de prece. Dessa forma, ao aliar a fé ao poder fluídico, direcionando-os ao Bem, podemos « transportar montanhas », como nos diz Jesus, executar curas e muitas outros fenômenos outrora considerados milagrosos. Todos eles estão a nosso alcance. Nos basta a simples escolha de viver com fé, e a certeza, sobretudo nos momentos difíceis, de que nossa fé é maior do que o medo e o sofrimento — afinal de contas, estamos todos subordinados à vontade de Deus, que invariavelmente quer nosso bem; então por que temer? 


*Um ótimo artigo explicando mais sobre as propriedades do fluido universal pode ser encontrado no site Lições dos Espíritos

Prefácio

O prefácio do Evangelho, por si só, já nos explica muita coisa sobre o propósito do livro e sobre o momento planetário que estamos atravessando — a hora em que devemos, de uma vez por todas, nos unirmos, harmoniosos como uma orquestra, para a preparação do que o Espírito da Verdade chamou de "concerto divino".

Através de suas palavras, conhecemos a imensa misericórdia com que nossos irmãos espirituais nos acalentam: irmãos amados, estamos juntos de vós. Eis a maior consolação da doutrina Espírita — a certeza de que não estamos sozinhos, a certeza da companhia dos espíritos superiores que trabalham incansavelmente, com amor e paciência, para nos ajudar em nossa caminhada rumo à perfeição espiritual.

Eles nos convidam, a seu exemplo, a amar-nos uns aos outros, da mesma forma que eles nos amam; o amor entre os homens não pode propagar-se, se ele existir somente numa dimensão vertical, ou seja, vindo dos espíritos superiores até nós — ele precisa existir também horizontalmente, entre todos nós que, numa posição inferior, nos encontramos encarnados ou desencarnados.

O Reino dos Céus ao qual se refere o Espírito da Verdade, não é um lugar situado no espaço, de onde podemos entrar ou sair — trata-se, na verdade, do mais alto grau da evolução espiritual, que só pode ser conquistado quando, degrau por degrau, aprendermos a seguir os ensinamentos que Jesus nos deixou como seu único legado.

Esta é a vontade do Pai que está no Céu, e é só através da aplicação diária de seus ensinamentos morais, da completa entrega aos princípios de Deus, que conheceremos dias melhores. 

Propósito Inicial


O objetivo deste site não é, de maneira alguma, substituir a leitura do Evangelho Segundo o Espiritismo, mas torná-la mais fácil e acessível, através da discussão de alguns capítulos, selecionados ao acaso. Conforme for possível e, se houver interesse, discutiremos também outras obras espíritas, de diversos autores. 

Sobre o Livro
O Evangelho Segundo o Espiritismo (L’Évangile Selon le Spiritisme) é um livro de Allan Kardec, publicado pela primeira vez em 1864, na França, inicialmente com o título de Imitação de Evangelho, e que aborda os ensinamentos do Evangelho através do olhar do Espiritismo, com a orientação e colaboração de diversos espíritos superiores — especialmente do Espírito da Verdade. O Evangelho Segundo o Espiritismo se destaca, entre os livros da Codificação, por nos fornecer "a base e o roteiro da Religião Espírita", como nos explica J. Herculano Pires, o "apóstolo de Kardec". 
Veremos mais sobre o livro conforme avançamos. 

Sobre o Autor
Allan Kardec (Hippolyte Léon Denizard Rivail), 1804-1869, foi um pedagogo francês, e fundador da Filosofia Espírita. Kardec começou seus estudos após tomar conhecimento do fenômeno das "mesas girantes", prática comum na época e tida como mero divertimento nos salões burgueses. 
A explicação aceita pela maioria era aquela do magnetismo, segundo o qual, um fluído magnético seria capaz de atuar sobre corpos inertes e fazê-los mover-se. Porém, além de mover-se, a mesa era capaz de responder a diversas perguntas, através de um código pré-estabelecido, onde um certo número de batidas na madeira poderia significa "sim", "não", etc. Intrigado, Kardec resolveu assistir a uma dessas reuniões, pois o magnetismo, apesar de ser capaz de explicar os movimentos da mesa, não seria capaz de conferir-lhe inteligência própria — portanto, não era a mesa quem respondia às perguntas, mas alguma outra coisa. A partir de então, Kardec lançou-se no estudo aprofundado sobre tais fenômenos, comunicando-se com os espíritos através de diversos médiuns, progressivamente, até chegar ao que conhecemos hoje como Espiritismo. 

Dito isto, comecemos. 

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