Uma preocupação recorrente, durante o aprendizado da doutrina Espírita, se refere aos laços afetivos que criamos com familiares, amigos e esposos. De que adianta criarmos esses laços e nos envolvermos tanto, se seremos separados numa reencarnação futura, na qual criaremos outros laços, com outros espíritos? Por que deveria me empenhar em amar, se esse amor será em vão?

Trata-se de um questionamento justificado. De fato, a reencarnação seria um sistema de crueldade se, a cada vida, fôssemos afastados das almas com as quais temos afinidade, aquelas com as quais desenvolvemos relações de amor, e fôssemos colocados entre estranhos. Se isso realmente acontecesse, seríamos obrigados a confirmar que um dos maiores medos do ser humano é real: a solidão, o isolamento. Mas como poderíamos crer na existência de um Pai amoroso, se as coisas se passassem dessa forma? 

Felizmente, não precisamos temer - pois que ao invés de romper os laços criados, a reencarnação os *fortalece*. 

Os espíritos criam, na erraticidade, grupos ou famílias, com bases na afeição mútua. Aqueles que estão desencarnados velam e protegem os encarnados, e uma vez no plano espiritual, todos se reencontram “como amigos na volta de uma viagem”. Também é bastante frequente que dois ou mais espíritos da mesma "família espiritual" reencarnem numa mesma família física, ou que se encontrem durante a reencarnação. Dessa forma, os laços de afeição entre os eapíritos, ao invés de rompidos, são reforçados, pois eles se prolongam além das situações transitórias da vida terrena, e além da morte corporal. São laços de amor imortal, que se purificam a cada encarnação. 

É possível, porém, que um espírito tenha como prova ou missão de reencarnar no seio se uma família com quem não possui verdadeira afinidade. Quando isso acontece, o objetivo é que os espíritos envolvidos possam aprender uns com os outros, superar diferenças de encarnações passadas, etc. Uma outra possibilidade é a de um espírito encarnar em uma família de diferente grau de evolução - assim, “os maus se melhoram pouco a pouco, ao contato dos bons e pelas atenções que deles recebem”.

Kardec traça, neste artigo do Evangelho Segundo o Espiritismo, uma comparação entre as doutrinas anti-reencarnacionistas e o Espiritismo, no que se refere ao assunto da ruptura dos laços de afeição. Segundo ele, o ser humano se depara com quatro possibilidades, ao desencarnar: “1) o nada, segundo a doutrina materialista; 2) a absorção no todo universal, segundo a doutrina panteísta [como o Hinduísmo e o Taoísmo]; 3) a conservação da individualidade, com fixação definitiva da sorte [Paraíso ou Inferno], segundo a doutrina da Igreja; 4) a conservação da individualidade, com o progresso infinito, segundo a doutrina espírita”.
A comparação de Kardec não tem por objetivo criticar as concepções de outras doutrinas, mas apenas de demonstrar como a questão dos laços familiares é tratada por cada uma delas e como a teoria da reencarnação é a única que oferece uma justificativa viável para tal questão.

Assim, fiquemos seguros, sabendo que estaremos sempre amparados por nossas afinidades espirituais - quer estejamos encarnados ou desencarnados. Os laços terrenos são por vezes prejudicados por paixões ou interesses materiais; mas os laços de afeto espirituais são verdadeiros. Não estamos nunca realmente sozinhos.