Archive for junho 2013

Sede Perfeitos - Capítulo XVII - "O Homem no Mundo"

Por mais que a vontade de servir a Deus seja grande, e por mais importante que seja seguirmos os seus princípios, não nos esqueçamos que, enquanto encarnados, fazemos também parte do mundo físico. 


Não precisamos - e nem devemos - nos entregar a uma espécie de vida mística, isolada da vida em sociedade, como tantos o fizeram, buscando agradar a Deus. Não se agrada a Deus através da fuga. 

Nossa existência temporária na Terra é uma condição imprescindível para nossa evolução, exatamente pelas inúmeras dificuldades que temos de atravessar. Ao nos isolarmos, nada mais fazemos do que estacionar: não aprendemos nada, não nos movemos, não evoluímos; pelo contrário, nos tornamos água parada, inútil e malsã. 

Já que estamos aqui, aproveitemos as oportunidades que nos caem nas mãos diariamente. Temos de viver "com os homens de nosso tempo", ou seja, nos interessando às questões da vida social, econômica, política, e até mesmo às questões banais de cada dia - porém, como bem nos diz o Evangelho, cada uma de nossas ações deve ser feita com um "sentimento de pureza que as possa santificar". 

Tal mensagem cai bem no momento em que vivemos em nosso país, onde fervilham os protestos e manifestações em muitas cidades: são vozes que reivindicam, que expressam, que criticam, mas que acima de tudo pedem para ser ouvidas - e é importante ouvi-las: são estas as vozes que perfuram as paredes que separam as questões públicas das questões privadas, pedindo espaço para a interferência do povo em áreas praticamente impenetráveis e que são do interesse de todos. 

Devemos tomar tais questões e situações como as ferramentas necessárias para nosso aprendizado.  Não aprende nada aquele que, sentado à janela, exclui-se da vida comum, parabenizando-se pelo mal não feito ou por sua posição "acima" de tudo aquilo. Estamos aqui; fazemos parte; devemos lidar com a realidade que nos rodeia, ou "perderemos" esta encarnação, estagnados. 

A pessoa virtuosa é alegre, consciente, ativa; ao entregar-se a qualquer ato, volta seu pensamento ao Criador, com pedidos de proteção e apoio, tendo sempre confiança de que Sua vontade será feita, resultando no melhor possível para todos os envolvidos. A perfeição e a virtude não estão na inação, na renúncia, no isolamento: como poderíamos, por exemplo, ser caridosos, se nos isolamos? 

Vamos então seguir o ensinamento do espírito protetor que, no final desta mensagem, nos diz: "sede felizes no quadro das necessidades humanas, mas que na vossa felicidade não entre jamais um pensamento ou um ato que possa ofender a Deus, ou fazer que se vele a face dos que vos amam e vos dirigem". 


“Sede Perfeitos” - Capítulo XVII - Caracteres da Perfeição

Ao ler a máxima que proferiu Jesus, “sedes perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito”, é preciso que saibamos no que consiste a perfeição, e como podemos alcançá-la.

Antes de tudo, devemos notar que a perfeição da criatura - ou seja, nós, que fomos criados por Deus - não é a mesma perfeição do Criador. Se pudéssemos alcançar a Deus em sua perfeição, nos igualaríamos a ele, o que é, como nos dizem os bons espíritos, inadmissível. Quando, através de nossos esforços, alcançarmos a perfeição, ela será de natureza relativa - e não absoluta, como a perfeição divina.

É a esta perfeição relativa que nos referimos quando falamos dos Espíritos Perfeitos, tais como Jesus. Ela consiste, basicamente, no maior grau de pureza possível a nós, espíritos imortais.

Herculano Pires, em seu livro “O Ser e a Serenidade”, dá algumas boas explicações a propósito da perfeição, visto que, para ele, o homem torna-se sereno ao respeitar três simples princípios:
- elevar-se sobre as circunstâncias;
- buscar sempre a perfeição;
- não se deixar abater.

Por enquanto, nos focaremos somente  na “busca da perfeição”. Para Herculano, a perfeição começa nas minúcias para, mais tarde, passar às estruturas de nosso comportamento. Com cuidado para não tombar na agonia do perfeccionismo, cada tarefa à qual nos dedicamos deve ser feita com a maior perfeição possível - ou seja, com atenção, paciência e dedicação. Esta busca pela perfeição é um dos primeiros passos na busca da serenidade, a qual Herculano define como “aproximar-se de Deus”.

No Evangelho, fala-se sobretudo da perfeição moral, que tem suas bases em princípios que já nos são bem conhecidos: a caridade e a humildade, que se contrapõem ao orgulho e ao egoísmo.

Conforme o homem evolui, percebemos que, moralmente, ele produz um movimento de abertura em relação aos outros homens. O egoísmo e o orgulho o mantém fechado em si mesmo, temeroso e ressentido; a caridade e a humildade, por outro lado, fazem com que o espírito se desenvolva, crescendo na direção de todos os seus irmãos, para amá-los e ampará-los.

Herculano Pires têm toda a razão em citar a busca da perfeição como uma das fontes da serenidade, pois uma não existe sem o amparo da outra. Uma vez que o homem se liberta de seu próprio egoísmo e de seu próprio orgulho, ele já não tem o que temer: ele se posiciona corretamente abaixo de seu criador e ao lado de seus irmãos, ganhando em perspectiva e confiança, o que só pode resultar num estado de serena resignação.

A perfeição resume com maestria a finalidade de nossa estadia na Terra. Que estamos esperando para empreender em sua busca?

Libertação - Joanna de Ângelis

O texto analisado desta vez não foi retirado do Evangelho Segundo o Espiritismo, mas do livro Momentos de Felicidade, de Joanna de Ângelis, psicografado pelo médium Divaldo Franco. Infelizmente, não encontrei o livro digitalizado, mas o link para o texto original encontra se na seção "Obras Originais".


Segundo Joanna de Ângelis, a libertação é uma das mais importantes finalidades da encarnação, no que se refere à auto-iluminação progressiva do espírito. O que significa, porém, tal libertação? De quê ou de quem devemos nos libertar?

Como espíritos encarnados, não podemos nos livrar facilmente das influências e dos determinismos da sociedade que nos rodeia. Desde a infância, essa sociedade nos impõe certos valores que devem ser adquiridos, para sermos aceitos socialmente - é bem conhecido que a sensação de não estar bem integrado à sociedade ou à comunidade traz ao indivíduo sofrimento e angústia, podendo até mesmo levá-lo ao suicídio.

Os valores que a sociedade atual nos propõe giram ao redor dos prazeres imediatos, do acúmulo de experiêcias muitas vezes desnecessárias, da posse de bens materiais, do individualismo egoísta. Não é fácil ignorá-los, ou tomá-los pelo que realmente são: construções sociais que nada têm de absoluto - modismos construídos pela mídia e pela publicidade.

É desses valores terrenos que devemos nos libertar, num primeiro momento.

Isto não quer dizer que não podemos sonhar com situações melhores e com a aceitação social, ou que não devemos buscar a realização de nossos projetos pessoais. Porém, devemos ser cuidadosos na escolha de nossos objetivos; selecionando aquilo que nos é realmente importante e aquilo que é um reflexo do que somos “ensinados a desejar”.

Num segundo momento, é de nós mesmo que devemos nos libertar - de nossas inclinações negativas, de nosso orgulho e egoísmo, e de nossas vontades insaciáveis. Para isso, porém, é preciso criar "condições favoráveis ao desenvolvimento dos valores éticos e espirituais que não devem ser postergardos”.

Joanna de Ângelis nos dá o exemplo da solidão e do silêncio, que, para uns, são motivos de tristeza, causando sensação de vazio e abandono; e que, para outros, são instrumentos de meditação, refazimento das forças, reflexão e auto-conhecimento. Ela nos sugere, então, a busca desses espaços, no nosso cotidiano, onde possamos encontrar o isolamento e o silêncio, deixando que a meditação nos refunde nossos valores intímos, nos libertando das paixões momentâneas.

Dessa forma, é possível alcançar a calma, a serenidade e a sobriedade necessárias para colocarmos nossa vida e nossas atividades em perspectiva, identificando aquilo que nos é prioritário, aquilo que realmente desejamos e buscamos, e aquilo que desejamos por influência exterior. São estes os primeiros passos para o auto-descobrimento.

Fora da Caridade não há Salvação - Capítulo XV - “O Maior Mandamento”

A caridade e a humildade são os princípios regentes do “maior mandamento”: amai a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo - somos caridosos diante do próximo e humildes diante de Deus, o que tem por consequência uma mudança significativa da nossa perspectiva.

Ao aplicar o divino mandamento, temos melhor consciência de nossa posição face à vida. Acima, está Deus; ao redor, nossos irmãos, a quem devemos tratar sempre como iguais, lançando mão da paciência e da compaixão. É esta a nossa maior missão, o grande aprendizado ao qual devemos nos lançar diariamente.

Já falamos sobre como a caridade traz benefícios a todo tipo de convivência. Lembremo-nos então do princípio da humildade, outro grande pilar de aprendizado.

É somente diante da vontade divina que devemos curvar-nos, visto que, entre espíritos encarnados, estamos entre iguais; todos temos falhas e defeitos e, por vezes, sérias faltas das quais nem desconfiamos nos mancham o espírito e o passado. Que direito temos nós, então, de nos considerarmos superiores ou inferiores aos outros?

Da mesma matéria-prima fomos criados, todos com ao mesmo potencial, com a mesma capacidade de desenvolvimento. As diferenças que vemos hoje em dia vêm dos erros e acertos que todos cometemos, e que sulcaram, como rios, diferentes desenhos em nossa face espiritual. Contudo, estas diferenças são temporárias, pois estamos todos fadados à pureza e à perfeição, e não devemos levá-las excessivamente em consideração.

Havendo então, o mesmo início, as mesmas capacidades, e o mesmo destino, não há motivos para não nos considerarmos iguais, o que quer dizer que também não há motivos para não agirmos com humildade em qualquer situação.

A humildade nos dá a precisa noção de nossa falhabilidade, nos livrando do orgulho; dá-nos a possibilidade de encontrar conhecimento e sabedoria em pessoas e lugares que não esperávamos; ela é a responsabilidade e o mérito compartilhados, na casa e no trabalho.

Porém, é somente ao dosá-la com a caridade que a humildade pode se fazer sentir, fechando assim o círculo perfeito que é o Maior Mandamento.

Não podemos realmente amar a Deus sem a aplicação destes dois princípios, isto é, amando ao próximo; ao atentarmos contra o próximo, é contra Deus que atentamos. Assim, como nos diz o Evangelho, “todos os deveres do homem se encontram resumidos nesta máxima: fora da caridade não há salvação”.

Muitos os Chamados e Poucos os Escolhidos - Capítulo XVIII - “Parábola da Festa de Núpcias”

Na parábola da festa de núpcias, Jesus nos conta a história de um rei, que celebrava o casamento de seu filhom e enviou seus servos a chamar os convidados para um grande branquete; estes convidados, porém, recusaram o convite, e alguns, ainda pior, zombaram dos servos enviados pelo rei e os mataram. O rei, entãom destruiu aquela cidade, e mandou que seus servos convidassem a todas as pessoas que vissem para o banquete, e muitos deles vieram. Porém, já à mesa, o rei viu que um dos convidados não estava vestido com veste nupcial, e mandou atirá-lo às trevas: “pois muito são os chamados e poucos os escolhidos”.

Podemos compreender, logo à primeira leitura, do que se trata a parábola. O rei é, certamente, o próprio Deus, chamando seus convidados ao banquete, ou seja, ao reino dos céus; os servos são os profetas, enviados para propagar a palavra divina, mas rechaçados e ridicularizados.

No que se refere aos primeiros convidados, o Evangelho nos explica que se trata dos judeus, o primeiro povo de toda a humanidade a ser publicamente monoteísta (até a época de Jesus, todos os outros povos eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses ao mesmo tempo). Em razão da melhor compreensão que tinham os judeus, foram eles os primeiros convidados de Deus: foi a eles que Deus trasmitiu seus ensinamentos, através de Moisés e Jesus.

Estes ensinamentos, porém, foram facilmente esquecidos, em nome do dinheiro, do orgulho e da corrupção; como consequência, vieram a incredulidade e o fanatismo, e desta forma os judeus perderam o lugar privilegiado que tinham na seara divina.

Os próximos convidados foram todos os outros povos, por entre quem a palavra divina foi difundida e que, caso a aceitassem, seriam admitidos no “banquete” ao invés dos primeiros convidados.

Entra aí o grande ensinamento da parábola: não basta comparecer ao banquete, esperando receber as bênçãos divinas sem esforço; é preciso vestir a túnica nupcial, ou seja, purificar o coração, deixando de lado nossas inclinações negativas e trabalhando sempre para colocar em prática os princípios de Deus.

Muitos são os chamados para o banquete celeste - em realidade, todos fomos chamados, por centenas de vezes - mas só nos será permitido entrar quando formos verdadeiramente merceredores.

Tecnologia do Blogger.